Descubra as camadas escondidas neste livro - Editora Peirópolis

Descubra as camadas escondidas neste livro

Ilustração do livro Sobre rios, de Leo Cunha e Paulo Rea, feita em marchetaria

Entrevista com Paulo Rea, artista de marchetaria, sobre o processo criativo de ilustrar com essa técnica no livro Sobre rios:

Entrevistador: Paulo, você utiliza a marchetaria para criar as ilustrações do livro *Sobre Rios. Como surgiu a ideia de usar essa técnica em um projeto literário infantojuvenil?

Paulo Rea: A ideia veio do próprio conceito do livro. *Sobre Rios fala sobre rios escondidos, soterrados pelo asfalto das grandes cidades, e a marchetaria é, em certo sentido, uma técnica de revelar o oculto nas madeiras. Trabalhar com lâminas de madeira, destacando suas texturas e nuances, cria uma sensação de profundidade e descoberta, o que conversa muito bem com a temática dos rios subterrâneos. Além disso, achei que seria interessante oferecer ao público jovem uma técnica visual que, de certa forma, também é esquecida ou “oculta” no cotidiano urbano.

Entrevistador: Quais foram os maiores desafios de adaptar a marchetaria para a ilustração de um livro, especialmente em um formato voltado para crianças e jovens?

Paulo Rea: O maior desafio foi simplificar a técnica sem perder a complexidade visual que ela naturalmente possui. A marchetaria exige precisão e detalhes minuciosos, o que pode se tornar excessivamente denso para o público infantil. Então, precisei encontrar um equilíbrio entre a riqueza dos detalhes e a clareza visual. Outra questão importante foi a escolha das madeiras: elas precisavam ter cores e texturas que fossem atraentes para os leitores jovens e que também ajudassem a contar a história dos rios escondidos. É uma técnica que, por ser muito manual, demanda muito planejamento prévio, já que cada peça precisa ser cuidadosamente pensada e encaixada.

*Entrevistador: Como você enxerga a relação entre a técnica da marchetaria e a história que está sendo contada em *Sobre Rios?

*Paulo Rea*: A marchetaria me permite trabalhar com camadas de significado, assim como a história fala de camadas da cidade, com os rios correndo ocultos sob o concreto. As lâminas de madeira, cortadas e montadas para formar as imagens, remetem diretamente a essa sensação de que há mais do que aquilo que vemos à primeira vista. Cada cena que criei para o livro tem esse intuito de revelar algo escondido, seja na textura das madeiras, seja na composição da própria imagem.

*Entrevistador*: Como foi o processo de colaboração com o autor Leo Cunha para garantir que suas ilustrações estivessem alinhadas com o texto?

*Paulo Rea*: Leo Cunha tem uma sensibilidade muito apurada e me deu bastante liberdade criativa, o que foi ótimo. Desde o início, discutimos a importância de criar imagens que complementassem o texto sem apenas ilustrá-lo de forma literal. Ele queria que a marchetaria ajudasse a contar a história de forma sensorial, fazendo com que os leitores sentissem a presença desses rios subterrâneos não apenas pelo texto, mas também pelas imagens. Isso me motivou a explorar texturas e formas que evocassem o movimento da água e a quietude desses rios escondidos.

*Entrevistador*: Como você espera que as crianças e os jovens leitores interajam com as suas ilustrações? Qual é o impacto que você quer causar?

*Paulo Rea*: Eu espero que eles se surpreendam, que sintam curiosidade tanto pela história dos rios quanto pela técnica de marchetaria. As ilustrações foram pensadas para despertar o olhar e provocar a imaginação. A ideia é que cada página seja uma pequena descoberta, assim como os rios do livro. Talvez alguns leitores queiram saber mais sobre essa técnica artesanal, ou simplesmente apreciem as texturas e as cores das madeiras. Acima de tudo, espero que as ilustrações ajudem a contar essa história de uma maneira que seja visualmente cativante e que permaneça na memória deles.

*Entrevistador*: A marchetaria é uma técnica artesanal e relativamente rara nos dias de hoje. Como você vê o papel dela no futuro da ilustração e das artes visuais?

*Paulo Rea*: Acredito que, justamente por ser rara e artesanal, a marchetaria tem um papel especial no futuro das artes visuais. Com tanta tecnologia e digitalização, técnicas manuais como essa ganham um valor diferente, quase como um respiro em meio a tantas criações digitais. Eu vejo a marchetaria como uma forma de trazer algo tangível e único para as ilustrações, algo que não pode ser replicado exatamente da mesma forma. Espero que, ao verem essas imagens, as pessoas reflitam sobre a beleza do artesanal e como ele pode dialogar com as narrativas contemporâneas, inclusive as voltadas para o público jovem.

 

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