Conheça: Luzia e os povos do Brasil
Aqueles que só conhecemos por meio de desenhos nas paredes das cavernas e artefatos encontrados milhões de anos depois pelos arqueólogos?
Em exercício que alia um punhado de imaginação e muito estudo, o quadrinista Piero Bagnariol nos oferece uma possível versão de tão longínqua existência, precisamente na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, há cerca de 22 mil anos – bem antes, aliás, da própria lagoa se formar. Podemos então dizer que muita água rolou por ali até hoje…
Diferentes povos, estudiosos e pesquisadores deixaram pegadas e rastros, e assim nos ajudaram a compreender, por meio da ciência e da imaginação, um passado comum e também o que somos hoje. Conhecer nossa origem provoca-nos a refletir: o que deixaremos como legado? Como nos relacionamos com o mesmo planeta, há tanto tempo habitado?
Diante dos quadrinhos, além de nos aproximarmos de eras tão distantes, podemos também perceber que cada desenho feito pelo humano de hoje é, de certo modo, uma reedição daquelas primeiras marcas deixadas em pedra. A mão do quadrinista assume contornos das mãos de outrora, aquelas que também caçavam e enfrentavam um cotidiano completamente diferente do nosso, agora narrado nesta HQ.
Sobre o autor:
Piero Bagnariol nasceu na Itália e veio para o Brasil com vinte anos, em 1992. Quadrinista e grafiteiro, é um dos fundadores da revista Graffiti 76% quadrinhos, que edita desde 1995. É autor de Um dia uma morte, com roteiro de Fabiano Barroso, Divina Comédia em quadrinhos, com seu pai, Giuseppe, Orestes em quadrinhos, de Eurípedes, e Odisseia em quadrinhos, de Homero, as duas últimas traduções realizadas diretamente do grego para a linguagem quadrinística, em parceria com a professora Tereza Virginia Ribeiro Barbosa, da UFMG. Ilustrou vários livros e é autor da série Blavatsky, que já tem lançados os álbuns Anos velados e O diário de Olcott.
Saiba mais:
Aos catorze anos, decidi visitar a gruta de Altamira, na Espanha, conhecida por suas pinturas rupestres realizadas há 22 mil anos e que encantaram artistas como Miró e Picasso. Este chegou a comentar: “depois disso, tudo é decadência”. Quando alcancei a entrada do sítio, no entanto, por algum motivo misterioso resolvi não entrar. Optei por perambular durante algum tempo pelos bosques ao redor, envolvido por aquela paisagem, que me pareceu carregada de magia. Depois, voltei para minha hospedagem, em Santillana del Mar.
Meu primeiro contato com a arte rupestre se deu, verdadeiramente, anos depois, na Pedra Pintada da vila de Cocais, em Minas Gerais. Como em Altamira, as imagens gravadas no paredão inclinado sobre a encosta da montanha combinam representações figurativas de animais e traçados abstratos. Observar de perto os registros milenares deixados pelos nossos antepassados foi uma experiência arrebatadora.
Alguns anos atrás, fui morar em Lagoa Santa, Minas Gerais, um dos berços da arqueologia no Brasil. O interesse pela vida dos povos do paleolítico tornou-se ainda mais forte. Como desenhista, sinto uma grande afinidade e reverência por aqueles primeiros fazedores de imagens. Admiro suas composições enigmáticas e sua assombrosa capacidade técnica, ao realizar pinturas quase imperecíveis na rocha, ao passo que nossas metrópoles de cimento e aço provavelmente virariam pó em poucas centenas de anos, caso fossem abandonadas.
Assim surgiu a ideia de produzir Luzia e os povos do Brasil, uma reconstrução em quadrinhos daquele que poderia ter sido o dia a dia dos mais antigos habitantes deste país, numa livre combinação de elementos ficcionais com informações científicas. Mais do que realizar um registro rigoroso da vida daqueles povos, espero despertar, principalmente nos leitores mais jovens, o interesse pelo nosso passado e transmitir o carinho e a profunda gratidão que sinto pelos nossos antecessores mais remotos.
Livros do autor:
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