Selma Maria e seus meninos quietos
A artista plástica e educadora paulistana Selma Maria Kuasne coleciona bonecos, poesias, pedrinhas e brinquedos-visíveis e invisíveis. Sua pesquisa sobre a cultura da infância longe dos centros urbanos chegou até o sertão de Minas Gerais, onde cresceu o escritor Guimarães Rosa (1908-1967), nas cidades de Codisburgo, Morro da Garça e Três Marias.
“Os brinquedos de sensações fazem parte da natureza humana. Já os brinquedos invisíveis são aqueles que estão diante dos nossos olhos, mas só encontramos com atenção e observação.”
Formada em Artes Plásticas pela FAAP, a paulistana Selma Maria cedo se envolveu com o universo da arte-educação. Além de atuar como professora de artes em várias instituições culturais, Selma dedica-se a pesquisar a Cultura da Infância, abordando as formas de brincar das crianças que vivem distantes de centros urbanos. Realizou oficinas com apoio das prefeituras de Morro da Garça, Cordisburgo e Três Marias para crianças de diversas idades. O resultado desse trabalho gerou a exposição “Meninos quietos – um olhar sobre os brinquedos do sertão”, visitada por 50 mil pessoas durante dois meses do ano de 2006, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Suas atividades junto às crianças geraram Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos, seu primeiro livro de poemas. A palavra de Selma Maria encontra-se também no Mapa do Brincar, no jornal Folha de S.Paulo.
A exposição “Meninos quietos” é o resultado de uma pesquisa feita com muita sensibilidade e de grande interesse educacional. Selma procurou conhecer brinquedos de infância de uma personalidade famosa, no caso “Joãozito”, que não pôde identificar, mas que não é difícil imaginar quem seja. Vivendo numa pequena cidade do interior de Minas, a criança teve grande criatividade, conseguindo com elementos os mais simples construir brinquedos engenhosos que a pesquisa de Selma revela, tornando o tema muito atraente. (palavras de José Mindlin, sobre a exposição “Meninos quietos”, que inspirou os livros)
Brincar na quietude, para o Sesc GuarulhosBola, brinquedo bicho, por Selma MariaMinha vida e os brinquedos, por Selma Maria (livro gratuito)O que são objetos poéticos: Selma Maria no Toca TV (Itaú Cultural)Menino Quieto, por Canto Livro
Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos é a própria infância da palavra. Selma transforma as percepções primordiais das crianças em prodigiosos silêncios. As crianças quietas estão vivenciando o seu primeiro ver, o seu primeiro ouvir, o seu primeiro tocar. As crianças, nas letras da autora, voltam a viver os sons e a ver as primeiras coisas. As crianças quietas estão guardando os primeiros conhecimentos do mundo. Elas estão quietas porque experimentam os primeiros sons dos ventos. Eles estão aprendendo o mundo. Os meninos são quietos enquanto recebem as primazias do mundo. E Selma os entende e as transmite com a infância da palavra. (Palavras de Manuel de Barros)
Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos é o primeiro livro da arte-educadora Selma Maria, e resulta do encontro da palavra poética com o universo lúdico da infância do sertão mineiro de Guimarães Rosa. Durante oficinas realizadas naquele espaço tão distinto do urbano, Selma identificou jeitos muito delicados e criativos de brincar. Poeticamente nomeados como “brinquedo-terra”, “brinquedo-bicho”, “brinquedo-cor”, “brinquedo-brinquedo” e “brinquedo-pensamento”, esses brincares reúnem-se aqui neste belo “brinquedo-livro”, para encantar crianças e adultos.
Em Um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos da cidade Selma Maria desvela os muitos jeitos de brincar e se divertir das crianças que moram nos grandes centros urbanos. A poesia de Selma olha agora para os inúmeros elementos da paisagem urbana, aproveitando os pequenos vãos deixados pela concretude da cidade para oferecer-lhes novos e inusitados sentidos.
Outro livro da autora publicado pela Editora Peirópolis, é o Isso Isso. Num delicado e ao mesmo tempo divertido “dicionário poético”, Selma apresenta aos leitores, “crianças de todas as idades”, poemas inspirados em palavras (polissêmicas) que começam com cada letra do alfabeto. A autora inspirou-se no poema “Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles, para compor o seu Isso Isso. Confira um trecho do livro, abaixo.
Canto
Um gato acha seu canto dentro da casa.
O passarinho solta seu canto lá na mata.
Chapéu
Chapéu vermelho na floresta é convite para o lobo fazer a festa.
Chapéu no futebol é um olé voador em cima do jogador.
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