Entrevista com Rosaly Senra: o nascimento de Otto, sua estreia na literatura infantil
Bibliotecária de formação, Rosaly Senra sempre viveu envolvida pelos livros. Radialista, ela conversa todos os dias com diversos autores no programa Universo Literário, da Rádio UFMG Educativa, o que torna sua relação com a literatura muito viva e constantemente atualizada. Como autora, já transformou em escrita sua viagem pelos caminhos de Santiago de Compostela, como também já deu sabor literário à culinária mineira no livro Quitandas de Minas. Agora ela estreia na literatura infantil com Otto, que nasce da sua relação com as crianças que frequentam sua vida, especialmente com um de seus sobrinhos, que inspirou o personagem. Otto foi lustrado por Carla Irusta.
Confira em seguida a entrevista com a autora.
ENTREVISTA COM ROSALY SENRA
Este é o seu primeiro livro para crianças. O que te impulsionou a escrevê-lo?
Há muito gostaria de publicar para crianças, porque sempre me deliciei com os bons textos escritos para elas. Mas escrever para crianças não é fácil. Exige uma boa história, exige sinceridade, exige novidade e, também simplicidade… As crianças de hoje estão cada vez melhores e querem sempre mais. Por tudo isso, o Otto demorou a sair.
O diálogo constante que você mantém com vários autores influenciou de alguma forma a sua escrita?
Influenciar a escrita não, mas impulsionou o desejo de escrever e de ir mais adiante, de publicar. Tenho contato com muitos autores muito bons e todos parecem muito amigos, mesmo nunca tendo os visto pessoalmente. Acho que a escrita nos aproxima.
A história de Otto faz referência a grandes livros da literatura infantil. Encontramos ali Alice, os personagens de Monteiro Lobato e o célebre pequeno príncipe. Conte um pouco sobre a sua relação com esses textos, que lugar eles ocupam na sua formação como leitora.
Alguns personagens são mesmo da minha memória de infância, do que eu lia e do que liam pra mim – fui criada na casa de vó, com tios sempre com livros nas mãos, e uma tia que sempre lia para eu dormir: Monteiro Lobato veio desse tempo.
Então a literatura que você leu na infância ecoa até hoje?
Sim, certamente. Depois, quando já lia sozinha, essa mesma tia Mene me incentivava a descobrir novos textos. Sou cria da “primeira leva” da Revista Recreio, idealizada e coordenada por Sônia Robatto, que nos anos 1970/80 trouxe novos nomes para a boa literatura infantil brasileira, nomes como o da própria Sônia Robatto, que escrevia muito para a revista, além de Ruth Rocha, Edith Machado, Ana Maria Machado, Joel Rufino dos Santos e tantos outros.
Entre os personagens que circundam Otto encontra-se um reizinho que não conseguimos identificar. De onde ele veio?
O reizinho não é de nenhuma história específica, mas reizinhos são sempre muito mandões nas histórias, mandões e sozinhos, mas talvez tenha vindo do texto da Ruth Rocha. Outros personagens vieram de quando eu trabalhava no carro-biblioteca da UFMG: o Edu e o Fábio vieram do livro Veludinho de Martha Pannunzio, dessa época. Alice e o pequeno príncipe são clássicos, que sempre estão por aí. Dessa época de carro-biblioteca guardo imenso carinho pelos textos de Fernanda Lopes de Almeida, Bartolomeu Campos de Queiroz, Elvira Vigna, Silvia Ortoff, Ângela Lago, Heloisa Prieto, Elias José, Lygia Bojunga, além dos já citados. E o Otto é um menino danado de esperto que vi nascer, meu sobrinho.
Vivemos num mundo em que a leitura está sendo posta a prova, com a formação do leitor enfrentando uma série de desafios inéditos. Enquanto as linguagens audiovisuais se fortalecem a cada nova técnica, o livro entra em crise de identidade. Como você vê essa cena, e o que você acha que pode contribuir para a formação de jovens leitores?
O momento é mesmo muito dinâmico e as crianças de hoje conseguem essa simultaneidade. Apesar disso, penso que a formação do leitor, a formação básica de apreensão da linguagem, do entendimento do mundo e dos mistérios da vida virá sempre dos momentos simples de afeto entre pais e filhos, tios e sobrinhos, professores e alunos, adultos e crianças que se relacionam. Nesse contexto, as histórias, lidas ou contadas, escritas ou inventadas são importantes. Felizmente há muitos bons escritores para pequenos e jovens leitores que têm trazido textos que alegram, que fazem carinho, textos que acalentam as amarguras da vida, textos que propõem desafios, que trazem novidades, além de estimular a criatividade e abrir as asas da imaginação. Mesmo com o avanço do mundo virtual, tenho certeza de que o livro, o objeto-livro, será sempre o primeiro contato com o mundo da fantasia, com o sonho, com o acesso a um mundo não visível, não palpável, mas fundamental da imaginação.
Seu livro tem ilustrações da Carla Irusta. O que você achou do olhar da artista sobre o seu texto?
Carla Irusta abriu a janela da fantasia, trouxe um desenho mais universal para o meu cenário interior. Eu gostei muito! Espero que as crianças também gostem.
Por Luciana Tonelli
1 Comment
Gostei mto do livro OTTO.Achei o conteúdo de fácil entendimento,interessante e a ilustração perfeita.Meus sobrinhos de 7 e 6 anos leram e se empolgaram.Parabéns Rosaly!Sou pedagoga(orientadora educacional)e acho que vale divulgar.
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