Provocações: "Seria melhor mandar ladrilhar?"
A primeira edição de Seria melhor mandar ladrilhar?, lançada há cinco anos, contribuiu muito para as discussões sobre a biodiversidade na época. No entanto, levando-se em conta a velocidade das mudanças e também do pensamento em torno do meio ambiente, cinco anos é tempo demais.
Em parceria com a UnB (Universidade de Brasília), a Editora Peirópolis investiu nesta segunda edição do livro, que chega ao mercado revista e atualizada. Os artigos presentes ampliam e aprofundam o tema em seus diversos aspectos, traçando as diversas relações existentes entre meio ambiente e cultura, educação, política, economia e ciência.
Com isso,Seria melhor mandar ladrilhar? contribui para o entendimento de que a conservação ambiental e o uso racional da biodiversidade estão intimamente relacionados à exclusão social e à pobreza.
Agenda:
O livro será lançado em Brasília no dia 29 de abril, terça-feira, às 19hs, no Rayuela ? 213 Sul, Brasília.
Promoção:
Quem tiver a primeira edição de ?Seria melhor mandar ladrilhar?? pode participar da promoção promovida pelo IEB, que permite a compra da segunda edição, revista e ampliada, com desconto, em troca da doação da primeira edição para as escolas públicas do ensino médio com as quais o Núcleo de Educação Científica do Instituto de Biologia da UnB (Necbio) trabalha.
Leia abaixo o prefácio da segunda edição:
O Sahara e a Amazônia: conexões improváveis?
Á guisa de prefácio para a segunda edição
Localizado no norte da África, o Sahara é o maior deserto do mundo, se não levarmos em conta a Antártida. Abrange 9 milhões de quilômetros quadrados e tem cerca de 2,5 milhões de anos. Seu clima variou muito entre úmido e seco nas últimas centenas de milhares de anos. Durante a última glaciação, por exemplo, o Sahara era maior e, após seu final, entre 8 mil e 2,5 mil anos a.C., a região foi mais úmida, inclusive devido às monções, que hoje sopram mais ao sul. Nessa época, o Sahara foi uma savana e sustentou um grande número de animais e plantas africanos. Com a volta do clima seco, eles se dispersaram pela África Ocidental, pelo norte da Cordilheira dos Atlas, pelo leste do vale do Nilo e de lá para as terras altas da Etiópia e para o Quênia, e através da península do Sinai, para a Ásia. Nesse processo de desertificação, grandes lagos como o Lago Chade perderam muito de sua extensão e muitos rios se tornaram cursos d?água intermitentes.
Já a Amazônia, localizada no noroeste da América do Sul, é uma floresta tropical luxuriante, com uma significativa biodiversidade. Abarca 7 milhões de quilômetros quadrados. Há evidências de mudanças significativas na vegetação da floresta nos últimos 21 mil anos, durante a última glaciação e o período subsequente de aquecimento. Análises indicam que houve diminuição de precipitação durante a glaciação, o que possivelmente causou a redução da cobertura vegetal.
Esses dois ambientes, divididos pelo Oceano Atlântico, afastados por mais de 4 mil quilômetros, possuem uma forte relação. São os sedimentos do Sahara, carregados pelo vento, que mantêm a produtividade e a biodiversidade da Amazônia. Dados obtidos por satélites mostraram que cerca de 240 milhões de toneladas de poeira são transportados anualmente da África para o oceano Atlântico, e desse total, 50 milhões de toneladas chegam na Amazônia. Trata-se de um arranjo peculiar da natureza fazendo com que mais da metade dos sedimentos minerais que fertilizam a bacia amazônica provenham de uma única fonte, a depressão Bodele, ao nordeste do Lago Tchade, na borda sul do Sahara, uma área com uma dimensão equivalente a 0,5% da Amazônia.
Algumas perguntas derivam-se imediatamente dessas recentes descobertas: desde quando esse processo existe? Que papel teve na formação da floresta amazônica? Até quando vai existir? Qual é o papel das mudanças climáticas e do aquecimento global sobre essa dinâmica? E, evidentemente, quais serão as consequências das mudanças climáticas para os inúmeros outros processos complexos que ocorrem no planeta, conhecidos e desconhecidos, e que mantêm a biodiversidade? A conexão Sahara ? Amazônia surpreende? Com certeza, mas, principalmente os que não levam em conta a importância de processos de larga escala ? temporal e espacial ? para a manutenção da biodiversidade. Processos que acontecem em escalas muito maiores do que as das estratégias clássicas de conservação e cuja mantenção é chave para garantir a integridade da biodiversidade.
Nos últimos cinco anos, desde o lançamento da primeira edição deste livro, o planeta ficou mais “ladrilhado” e menos biodiverso. Muitos ainda acreditam que a resposta ao título deste livro seja afirmativa ? sim, seria melhor mandar ladrilhar ? e continuam defendendo uma forma insustentável de uso da terra e dos recursos naturais. Muitos acreditam que a tecnologia será a redentora e que sanará os problemas advindos da redução da biodiversidade e do comprometimento dos serviços ambientais. Outros acreditam que tudo se resume a uma teoria da conspiração: os países desenvolvidos tentando limitar e cercear o desenvolvimento dos outros.
Ainda assim, continua valendo o esforço de mostrar ? e essa é a intenção deste livro ? que a biodiversidade possui um papel relevante na manutenção da vida humana na Terra e está intimamente ligada ao nosso dia-a-dia e à nossa qualidade de vida. Duas outras idéias, relacionadas com essa intenção principal, permeiam esse livro. A primeira delas é assinalar a importância dos processos para a manutenção da biodiversidade, isto é, para garantir a conservação da biodiversidade não basta isolar uma área da sanha predadora da nossa espécie e respirar aliviado. Por maior que seja essa área, há processos ambientais, ecológicos e evolutivos que ocorrem em uma escala que transcende os seus limites. As mudanças climáticas são um bom exemplo disso e a conexão Sahara – Amazônia é uma excelente demonstração da complexidade dos processos dos quais a diversidade biológica depende.
A outra idéia, presente nesse volume, é o vínculo existente entre conservação de biodiversidade e pobreza. Quando os serviços ambientais ? disponíveis gratuitamente na natureza ? são degradados e, consequentemente, precisam ser substituídos por processos tecnológicos, são os mais pobres que saem mais prejudicados, pois essa substituição se traduz em encarecimento dos produtos derivados dos serviços ambientais. O exemplo clássico é o da água, cujo tratamento, devido à degradação ambiental das fontes de captação, torna a conta de água mais cara e, para muitos, inacessível. Ou seja, a substituição tecnológica, nos poucos casos onde ela é possível, aumenta a exclusão de parcelas significativas da humanidade no acesso a produtos e serviços essenciais para sua sobrevivência e qualidade de vida.
Para tornar essa segunda edição atual, os autores revisaram seus capítulos, incorporando novas informações e análises, e quatro capítulos foram acrescidos. Na primeira seção do livro, que trata dos instrumentos de conservação de biodiversidade, há dois novos capítulos, um relativo à biodiversidade marinha, em geral negligenciada, e um outro sobre a importância do fomento como instrumento de conservação de biodiversidade. A última seção que continha apenas um capítulo na edição anterior, foi acrescida de outro, abordando o desafio da conservação da biodiversidade em um cenário de mudanças climáticas.
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