Por que dar poesia à criança e ao adolescente?
Neste mundo de tecnologia e ciência, que significado terá a poesia?
No nosso entender, o que vem realmente acontecendo é que a força afetiva, moral, idealista que existe no homem não está conseguindo acompanhar, paralelamente, o progresso material, decorrente de descobertas e redescobertas. A simplificação da escola e a preocupação utilitarista de certa educação têm limitado as possibilidades de ascensão espiritual do educando; a poesia, justamente, oferece um novo caminho de escalada: leva à beleza enquanto o mundo se preocupa com a utilidade; reanima as energias éticas enquanto o mundo paira no relativismo; dá novas cores à existência enquanto a mecanização procura acinzentá-la.
À medida que cada ser humano vai impregnando-se de poesia, a visão se abre, o perceber se alarga, as vivências se intensificam, os valores se enriquecem. O encontro do leitor com a poesia é o reencontro do leitor consigo mesmo, numa reintegração de emoções: ritmo, idéias, ideais, beleza, perfeição se interpenetram e elevam e movem o fruidor.
Assim, a poesia influi na imaginação, nas emoções, nos sentimentos, dá sentido novo às experiências intelectuais, revela a natureza e o mundo interior, revela a própria vida. A Didática da Poesia se reveste de sutilezas que duramente se materializam nas palavras.
Vamos tentar expressar maneiras de contato com a poesia:
• primeiro momento é o da leitura do poema: leitura, releitura até uma quase automatização de forma, ritmo, sons, melodia;
• segundo momento é o da particularização dos efeitos sintagmáticos ou fraseológicos;
• terceiro momento, o de observação de palavras-chaves, sozinhas ou acompanhadas;
• quarto momento, o de penetração: idéias, forma;
• quinto momento, o da associação das imagens, dos motivos, dos temas, com a experiência pessoal do leitor;
• sexto momento, o de integração: poema total e leitor.
A ordem pode variar, e os momentos podem ser assimilados uns pelos outros.
Pode o professor contribuir para melhor absorção da poesia pelo aluno? Entendemos que pode.
A primeira condição é a de que ele próprio saiba viver a poesia.
A segunda condição é a de que crie um clima para a poesia na sua classe, aproveitando todas as oportunidades de enriquecimento lírico-artístico.
A terceira, de sentido objetivo, é a de que se integre nos poemas que vai apresentar.
A quarta é a de que alterne os processos de apresentação e encaminhamento de assimilação poética.
Lembrando os “momentos” a que nos referimos, apresentamos alguns esquemas de procederes, susceptíveis de reformulação pelo professor:
Leitura silenciosa pelos alunos da classe; leitura oral por um aluno voluntário; abertura às comunicações; traçado de linhas para as comunicações; análise por estrofe; titulação de estrofes (quando couber); visão conjunta do poema.
Leitura oral pelo professor; leitura silenciosa pelos alunos;leitura coletiva, oral por professor e alunos;leitura por grupos – tipo jogral; busca de palavras-chaves; levantamento das comparações, imagens, metáforas; levantamento de personagens; levantamento das ações; levantamento dos motivos.
Valorização da forma; rima – tipos; métrica – acentos – ritmo; contagem de sílabas (valor, som, posição); determinação de forma; determinação de motivos; realce de palavras.
Individualização: cada aluno escolhe um poema para ler em casa, reler na escola; apreciar forma e conteúdo; associar suas vivências pessoais às do poema fazer releituras (possibilidade de memorização do poema preferido).
Reafirmamos: a poesia, quando publicada, não traz endereço; os recebedores, consumidores e fruidores firmam seu destino. Assim O Menino Poeta de Henriqueta Lisboa teve sua acolhida entre grandes e pequenos e se firmou como literatura autêntica. Os professores vão receber esta coleção para distribuí-la com seus alunos, de qualquer idade, porque seus poemas são realmente poesia e suas mensagens, comprovadamente, podem atingir às várias faixas etárias.
Por Alaíde de Oliveira Lisboa
1 Comment
Interessante as colocações sobre a poesia. Importante levar esse conhecimento para a sala de aula, mais importante ainda é levar isso a cada sujeito. Gostei muito quando fala sobre a primeira condição para o professo, ” a primeira condição é a de que ele próprio saiba viver a poesia”, pois ninguém dá o que não tem. Entretanto sobre o contato com a poesia eu creio que deve vir primeiro “sexto momento, o de integração: poema total e leitor”, pois poesia é antes de tudo SENTIR. Ligia Maria Poeta e professora de Arte.
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