Impressão de leitura: A senhora da casa azul
Experiência com o uso do livro “A senhora da casa Azul”, de Everson Bertucci, durante curso sobre “Prevenção e Manejos da Violência”
Por André Luiz, educador do Projeto Quixote
Como entrar no tema da violência sem ser violento? Foi por essa pergunta, feita pela coordenadora do SPVV do Projeto Quixote, que eu conheci o livro “A senhora da casa azul”, do autor Everson Bertucci e com as ilustrações de Juão Vaz.
A experiência de ler a obra foi instigante, pois ao mesmo tempo em que ia adentrando a vida e a rotina de Nico e Georgina, pude ver como a simplicidade da vida, quando vista de perto, revela intrincadas tramas de subjetividade. Ao passar as páginas, percebi que Nico é capaz de mobilizar na bisavó eventos e vivências até então naturalizadas. Diante disso, a edição do livro e as ilustrações vão cumprindo o seu papel de maneira majestosa: o azul que colore as páginas e encanta no começo, vai tornando-se uma personagem viva da história. Fiquei na torcida para que a cor do Nico surgisse, mas quando não apareceu, preferi acreditar que não era para mim, apenas para ele e a senhora Georgina, cujo nome foi suprimido do título, e sua pessoa reduzida apenas a uma casa cuja cor ela não escolheu.
Desse modo, a violência aparece de maneira sutil, apenas para quem tem a sensibilidade necessária. Ela (a violência) não é protagonista, mas está entremeada no cotidiano, de maneira que somente outra pessoa é capaz de apontar e causar estranheza. Por isso, a história é magistral: revela uma camada da vida sem anunciá-la, mas sim pelas perguntas que a denunciam.
Após tais reflexões, ler para as alunas e alunos na aula sobre Expressões da Violência causou em mim um misto de ansiedade e ao mesmo tempo de busca de companhia para interpretar e discutir a obra. Ler para o coletivo foi uma experiência colorida, contrastando com a ideia monocromática do livro, porque foram muitas as expressões e reações diante da mediação de leitura. Ser o narrador me colocou em um lugar de convidar tantas pessoas para adentrar a casa azul, os diálogos entre bisavó e bisneto, viver aquela rotina simples e conhecer o bisavô que está presente o tempo inteiro na história, através da cor. Ao ler e perguntar para o público “você enxerga alguma violência?”, temos a chance de dialogar com outras possibilidades interpretativas. Notamos também que a curiosidade e o interesse pela história foram despertados: querem pegar o livro, reler as passagens, ver as figuras com mais atenção. É a literatura, como a mais pura expressão da arte, mobilizando o humano em nós. Conhecer, ler e mediar a leitura da obra “A senhora da casa azul” foi um presente, pois foi graças ao Projeto Quixote que pude ter essa chance. Ao autor, ilustrador e à Editora Peirópolis, minha admiração e respeito seguem consolidados, pois são livros como esse que nos auxiliam na lida diária, que muitas vezes é árdua. Mas é graças a trabalhos como este que a gente consegue alcançar de maneira mais respeitosa o coração das pessoas.
Conheça A senhora da casa azul
Nico adora visitar o sítio do biso e da bisa. Por ali, há um pouco de tudo: galinha caipira, galinha d’angola, pato, pavão, papagaios, araras, a casa azul dos bisavós e uma casa na árvore que está sendo feita especialmente para o bisneto. Quando chega o momento de escolher a cor da nova morada, Nico provoca uma tremenda revolução na vida da bisa Georgina.
Uma história que nos leva a refletir sobre os caminhos da vida, sobre o peso de nossas escolhas e a necessidade da transformação.
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