Henriqueta Lisboa: recepção crítica
Comentários sobre a obra
Pela profundeza do pensamento; pelo poder de captação do sentido íntimo de seres e coisas; pela economia verbal; pelo tratamento meticuloso oferecido à linguagem (a regra, hoje, é a concessão sem limites a tudo quanto é errado e até antipoético); pela severa compreensão da poesia e da arte de compô-la; pela disciplina métrica, ainda quando usados os nuneri lege soluti; pelo cauteloso, pelo sábio aproveitamento da liberdade; pela indiferença em face de maneirismos e modismos; pela “ordem” das suas composições, que jamais cedem a certas modernidades encontradiças até em poetas importantes e ainda pelo que paira de inefável e misterioso em sua obra, Henriqueta Lisboa é um dos grandes nomes da poesia em língua portuguesa.
Abgar Renault | Obras completas (1985)
Conheci Henriqueta Lisboa. Discretamente. Suavemente, como ela nos permitia. E agora esse livro de Carmelo Virgillo me fez voltar a uns 30 anos atrás. E eu estou vendo Henriqueta Lisboa ora saindo de uma livraria, ora esperando pacatamente por um ônibus numa rua de Belo Horizonte, ora saindo das aulas de literatura que dava na universidade. Ela passava como uma brisa, como um anjo tímido, ela passava por nós com o rumor branco de sua poesia. Era uma parte da poesia modernista retida em Minas. Eu a olhava reverencialmente. A poesia era possível, delicadamente, sem atropelos das modas, liricamente.
[…]
Chamou-me sempre a atenção o fato de a poesia de Henriqueta não se deixar tumultuar pelas novas tendências e modismos poéticos. Sua poesia, a rigor, não se preocupava nem com a modernidade. O mundo tecnológico com seus objetos e expressões vernaculares não perfuravam sua crosta poética. Passava pelo modernismo de raspão. Ela vinha de uma linhagem que, em Minas, passa por Alphonsus de Guimaraens, o simbolista, e por isso estava mais interessada no canto do que nas virtualidades do jogo vocabular.
Affonso Romano de Sant’Anna | Henriqueta Lisboa (1992)
Na ânsia de paz, de solidão protegida, no gosto da inocência e da pureza, visível até na preferência de imagens sugeridas pelo cristal, revela-se a feminilidade, cujo estudo seduz na obra de Henriqueta Lisboa pela inconfundível autencidade que lhe confere.
Aires da Mata Machado Filho | Obras completas (1985)
Atingiu-se o momento em que a poesia, cristalizada, se oferece, direta e simples, mas de uma simplicidade que significa paradoxalmente maior complexidade e maior riqueza interior.
Alphonsus de Guimaraens Filho | Obras completas (1985)
Henriqueta Lisboa realizou, na tradução de alguns cantos do “Purgatório”, uma verdadeira proeza. Setecentos anos de distância tornam qualquer tradução, já de si difícil, um verdadeiro desafio.
A língua italiana nascente, balbuciante, sofrendo a concorrência de numerosíssimos dialetos, é a fôrma de que cumpre tirar o poema, para recriá-lo na fôrma da língua portuguesa do século XX, e do Brasil. Salto temporal de gigante, modelagem artesanal de fada!
E o “Purgatório” ressurge, recriado, como mais um fragmento daquele espelho partido do qual fala Henriqueta Lisboa, fragmento que não perdeu a limpidez nem a capacidade refletora de sua matriz secular. Tudo é possível, no reino da Poesia!
Ângela Vaz Leão | Presença de Henriqueta (1992)
O esforço crítico, esforço da inteligência, pode explicar facetas múltiplas da poesia de Henriqueta Lisboa, tudo aquilo que nela provém de técnica – e não é pouco. Restará sempre, entretanto, uma zona em que só se consegue penetrar por intuição e simpatia, com humildade. Restará o mistério de sua força lírica.
Ângela Vaz Leão | Evolução de um poeta (1963)
A não ser em alguns versos do Sr. Manuel Bandeira e da Sra. Cecília Meireles, não sei de outra poesia brasileira moderna que seja mais fluida e mais etérea do que a da Sra. Henriqueta Lisboa. É uma delicia a perfeição com que sugere e descreve.
Antonio Candido | O menino poeta (1944)
Henriqueta não é poeta diluída em eventos, mas visa, segundo ela própria, “de modo pertinaz e intensivo, à essência do ser, a substância do que é vital, a ansiedade da criatura em busca de perfeição e do infinito, os mistérios da natureza, o próprio mistério do processo poético”. Sua poesia não está de costas para a História, como já se afirmou, pois a crispação de sua sensibilidade ferida pelas veemências do mundo, “sem compromissos nem modismos”, liga-a ainda mais inexoravelmente à própria História. Só que a suas imagens tocam as tramas secretas das possibilidades.
Antônio Sérgio Bueno | Casa de pedra: a edificação de uma escrita (1984)
Miradouro e outros poemas pode ser encarado, agora, como a soma positiva de toda uma vida dedicada à poesia – o visor, o miradouro do poeta, que está acima das coisas e dos homens, para marcá-los com a sua palavra, bela e contundente.
Assis Brasil | Dois poetas (1977)
Recolhida em suas montanhas mineiras, de longe, no entanto, exerce o fascínio dos seus poemas encantadores. Há um reconhecimento público que a coloca na categoria superior dos poetas contemporâneos do Brasil. Irmã legítima de Carlos Drummond de Andrade. Os seus versos não são secretos nem misteriosos. Abrem-se como as flores, têm perfume e colorido. Irmã também de Alphonsus de Guimaraens, do suave misticismo dos seus poemas. Nada é artificial ou exótico e quanto mais trabalha mais aperfeiçoa. Romântica, simbolista, parnasiana, todos os ritmos e metros compõem os requintes de sua arte que representa a oferta de sua vida gloriosa, inteiramente dedicada a poesia.
Austregésilo de Athayde | Meio século glorioso (1979)
O privilégio de ter convivido com Henriqueta Lisboa me levou a suspeitar da origem de seu intenso ofício poético. Duas atitudes distintas me surpreendiam, além de sua maneira refinada de estar diante do “tênue fio” da existência. Uma primeira, supunha vir de sua capacidade purificada de não se indignar diante dos mistérios que envolvem o ser humano e que jamais se revelam. Uma segunda residia em seu constante exercício de deslocar-se de sua intimidade reflexiva para estar com o outro, tomando a poesia como matéria maior para inaugurar o diálogo. Por ser assim, toda a produção de Henriqueta Lisboa é um convite insistente para que não deixemos passar despercebido nenhum dos elementos que nos rodeiam e nos espiam. Mas para tanto é necessário nomeá-los com palavras justas e escolhidas como fez a poeta.
Bartolomeu Campos de Queirós | Luz da lua (2006)
Como conhecedora da poesia, construída ao longo da história da literatura, Henriqueta Lisboa nos presenteou com uma construção impecável em forma e em essência. Sua poesia, como me afirmava, não possuía destinatário por reconhecer que a beleza é propícia a todos.
Bartolomeu Campos de Queirós | Luz da lua (2001)
Henriqueta Lisboa é poesia encarnada. Do azul ao mármore – ela constrói, com invejável sensibilidade, os seus versos. Onde seu olhar repousa – das nuances do mundo à alma Humana – a poesia se revela inusitada. Henriqueta é presente, sempre.
Bartolomeu Campos de Queirós | Gabinete de arte (2001)
Na sua intensidade, na sua simplicidade ilusória, na sua harmonia orgânica, são comparáveis os poemas de Henriqueta Lisboa aos de Emily Dickinson. A poesia americana tomou por muitos outros caminhos diferentes daqueles que Emily Dickinson tão delicadamente, e contudo tão claramente, traçou. A poesia brasileira avançará também por muitas outras estradas. Mas Henriqueta Lisboa, como Emily Dickinson, servirá de guia, e se não de guia, então como padrão de excelência poética com o qual os próprios poetas poderão medir-se.
Blanca Lobo Filho | A poesia de Henriqueta Lisboa (1966)
Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos do que os atingidos por este tímido e esquivo poeta.
Carlos Drummond de Andrade | Um poeta conta-nos da morte (1952)
Henriqueta Lisboa destila poesia, servindo-se da matéria prima em que outros saberiam encontrar apenas aniquilamento ou desespero. Por isso tal poesia é tão confortadora, na sua especial dolência; quase diria: na sua morbidez. E por isso nos comove tanto, sem recorrer a qualquer artifício sentimental. Sentimos que seus versos são a secreção de uma vida, e não apenas um devaneio caprichoso. Não haverá, em nosso acervo poético, instantes mais altos que os atingidos por esse tímido e esquivo poeta, e sem qualquer repetição de atitude estética ou religiosa, se inscreve na tradição de Alphonsus de Guimaraens.
Carlos Drummond de Andrade | Um poeta conta-nos da morte (1952)
Henriqueta Lisboa poderia bem afirmar a sua “santidade” ao criar através do texto de “Frutescência”um cosmo próprio. Neste mundo particular de sua criação, ela consegue recuperar o fenômeno da mulher do tratamento frequentemente limitado que se lhe dá sob o peso do passado cultural. Além disso, com o seu ato criador, sofrido e apaixonado, Henriqueta Lisboa afirma o seu duplo papel de artista e pessoa. E alcança isto ao provar que pode compartilhar com o leitor, mediante o poder sutil de sua linguagem, o processo solitário do poeta de inquietação, amadurecimento e autodefinição, que conduz à realização pessoal e humana.
Carlos Drummond de Andrade | Ednalva Guimarães (1970)
“A poesia de Henriqueta Lisboa sempre me cativou e continua a fazer-me companhia. Conta-me aquilo que só um poeta muito apurado e liberto de circunstâncias pode e sabe contar. Devo-lhe a penetração de vários segredos, devo-lhe notícias da alma dos homens e da essência do mundo, que essa poesia consegue exprimir como pouquíssimas outras entre nós.”
Carmelo Virgillo | A imagem da mulher em “Frutescência” de Henriqueta Lisboa (1984)
Considerando-se as origens simbolistas de sua poesia e a conceituação, na estética simbolista, de arte e poeta como tópicos transcendentais, impressiona a lucidez com que se abriu a inteligência crítica de Henriqueta Lisboa para o enfocamento de questões das mais variadas da criação poética.[…] A constância com que se dedica à interpretação e à explanação de motivos literários tem permitido que Henriqueta Lisboa exerça indiscutível influência em áreas culturais que estão bem próximas: a universitária belo-horizontina e a da literatura mineira de gerações atuais.
Darcy Damasceno | Henriqueta e a crítica de poesia (1968)
Os versos de Henriqueta Lisboa envolvem como um suave canto de sereias, insistente, irresistível e que, à maneira das homéricas, põem em risco a vida dos navegantes porque arrancam os incautos do seguro andar cotidiano, sacudindo-os pelas bases.
Donaldo Schüler | As palavras como pousada do ser (1983)
Nenhuma poetisa brasileira terá conseguido libertar-se tamanhamente do lirismo frágil e reduzido a poesia a lances de tão extremada contenção.
Fábio Lucas | Obras completas (1985)
Henriqueta Lisboa é, de todos os poetas do modernismo brasileiro, o que mais alto cantou o sentimento da morte. E, coisa que surpreendeu em Cruz e Sousa, à medida que ia amadurecendo o tema e progredindo na técnica, passou a trabalhá-la por dentro, a quase participar da interioridade da morte.
Fábio Lucas | Henriqueta Lisboa: o tema e a técnica (1959)
Surgindo do decênio da Semana de Arte Moderna, Henriqueta marcou o seu lugar, em nossas letras, num tom que tanto se distanciou da objetividade realista quanto da musicalidade ultra-simbolista e das tropelias lúdicas do Modernismo. Vinha para descobrir pouco a pouco o seu próprio caminho. Só. Figura solitária. No seu recolhimento, mostrou-se logo uma artista laboriosa, determinada; nunca deixou de ser assim, ao longo de cinquenta anos, durante os quais não fez concessões a modas e paróquias.
Guilhermino César | “A experiência do recato” (1979)
Sua poesia confunde-se com o afã de tangenciar o indizível, de ultrapassar os limites léxico-semânticos da palavra e, afinal, como queria Rilke, de penetrar a essência da poesia.
Ivan Junqueira | Obras completas (1985)
À autenticidade do sentimento, junta Henriqueta uma inteligência aguda, altamente cultivada, capaz de formular uma filosofia própria do mundo e da vida.
Ivan Lins | A poesia de Henriqueta Lisboa (1974)
A poetisa sabe guiar a sua inspiração e a sua versificação e tem a noção exata do momento exato em que deva submeter a torrente poética a uma mudança de direção ou sentido.
Jamil Almansur Haddad | Obras completas (1985)
As palavras vêm para ela, como se não fossem símbolos ou arquétipos, valores ou sinais, mas as próprias coisas, os próprios sentimentos, as próprias sensações.
João Gaspar Simões | Romantismo e verbalismo (1951)
Aí está sua grandeza como poeta: o dom de jungir o evanescente e o preciso, mantendo-se fiel ao tom original, ao murmúrio da alma, sem procurar a retumbância e a eloquência. Por outro lado, Henriqueta é moderníssima quanto à qualidade da emoção, à fatura dos versos, à consonância com seu tempo.
J. G. Nogueira Moutinho | Além da imagem (1965)
Sua personalidade inconfundível, seu novíssimo mundo poético que encontra a expressão bela e segura numa versificação variadíssima e libérrima, seu apurado intelectualismo em que assoma um fino sentido do popular, dão à sua obra um valor destacado excepcional, não só entre os poetas brasileiros, mas entre a lírica universal contemporânea.
Joaquín de Entrambasaguas | Obras completas (1985)
Entre os poucos grandes poetas dos nossos dias, cuja obra corresponde a qualquer coisa que é preciso dizer através de uma expressão vigorosa, lúcida e por si mesma criadora, situa-se Henriqueta Lisboa.
Jorge Ramos | Henriqueta Lisboa (1974)
A fusão do tradicional – mítico lendário, ou apenas ritmicamente assimilado e transmitido pelo povo – com o pudor – que eu acho exato – de uma personalidade que se afirma no verso e não através dele, também isto é uma característica de sua poesia, e uma das que a tornam mais afim de uma visão, que é a minha, de uma poesia que não seja arte poética nem exibicionismo literário, senão na medida em que, para sermos poetas, devemos a nós mesmos um conhecimento seguro do mundo para que a poesia se forme.
Jorge de Sena | Obras completas (1985)
Hábil artesã da palavra, Henriqueta Lisboa sabe realmente – e com que perfeição! – trabalhar a matéria-prima que molda. O valor estético – magistral e primoroso – reveste adequadamente o fator temático, que impressiona e empolga pela profundidade.
José Afrânio Moreira Duarte | Henriqueta Lisboa: poeta maior (1974)
Éramos quatorze, originalmente. Depois, passamos a nove. Hoje, somos seis: três mulheres, reunidas em Belo Horizonte: Maria, Henriqueta, Alaíde; três homens, dispersos: São Paulo, Baependi, Rio de Janeiro. Os quatorze, nove ou seis fomos e somos os mesmos: atados por uma profunda solidariedade, irmanados verdadeiramente, com o sentido do amor e do respeito mútuos, herdados no leite, cultivados na doce convivência de casa. Nesta, em todo o tempo, as excelências desse amor e desse respeito gravitaram sempre em torno de Henriqueta. Não por ser a caçula, a mais frágil ou a mais dominadora. Apenas por ser quem era, e foi, e é: um ser de Poesia, diferente dos demais, na sua mansa firmeza, no seu poder criador, na vida ou nas artes – em todas as artes, letras, música, pintura. Ela era, para nosso orgulho e para nossa alegria, a singular figura marcada para a Eternidade, a Maga, a Mágica – sem qualquer ostentação: a Irmã perfeita, a Filha perfeita, a Amiga perfeita, era e é: o Poeta.
José Carlos Lisboa | Henriqueta (1984)
Henriqueta e Drummond, dentro de um mundo único e não uno, são dois modernos e morígenos mineiros; dentro de um mundo que se vai apequenando, mecanicamente, fechado em dimensões de casa nossa, com seu todo de ubiquidade e sincronia, desde as muitas terras e muitos mares de seus muitos espaços. Com tanta alteridade espacial, contra tão pouco tempo digestor, a poesia ficou muito difícil. Nossos dois poetas, entretanto, com simesmice de mineiro, aprenderam a moderar o cotidiano, lirizando o momento que passa. Humanos como estão, enxutos e sazonais, lembram-me a flor de um vinho caracense.
José Lourenço de Oliveira | Poesia e Henriqueta (1970)
Em cada objeto-poema seu, a imagem é texto e contexto, não se podendo contemplá-la isoladamente e esvaziada da consciência criadora em que a manipulação conceitual não elide a concepção mágica de uma estética aberta a todos os horizontes da realidade.
Laís Corrêa de Araújo | Lúcida e límpida vigília (1979)
O que distingue os grandes poemas, recentes ou antigos, da poetisa mineira, é a sua inconfundível marca diáfana, abstrata. Henriqueta extrai da sua contínua contemplação da natureza antevisões do informe que brotam do visto em sua forma concreta.
Leo Gilson Ribeiro | Obras completas (1985)
Com acuidade e sutileza, captou uma visão essencial da alma humana em nosso tempo. Talhou em matéria consistente seus poemas. Na solidão, na incomunicabilidade, no amor, no medo, na desesperança, na fé, no sentido oculto da morte. Ou seja: foi da condição humana, precária e contraditória, que tirou seus mais pungentes elementos de criação. E sempre com uma perspectiva de profundidade, penetrando camadas inexploradas, revelando aspectos inusitados. Daí sua singularidade dentro da poesia brasileira.
Luz e Silva | Obras completas (1985)
Já disseram da poesia de Henriqueta que ela se caracteriza por uma constante perfeição (como a de Cecília Meireles). Mas essa perfeição não é fruto de fácil virtuosidade: é perfeição de natureza ascética, adquirida à força de difíceis exercícios espirituais, de rigorosa economia vocabular.
Manuel Bandeira | Dante e Henriqueta (1959)
Evidencia-se, pois, que ela, poeta e pequeno deus, acaba por existir com maior força de presença na obra criada que na própria biografia, fruto do acaso e da necessidade. Quem queira, portanto, conhecê-la, na sua “maneira particular de ver as coisas, no seu discreto testemunho do mundo e na sua extasiada contemplação da entressonhada beleza, procure desvendar na sua poesia os seus biografemas” – traços ou rasgos de vida que se podem colher na imensa dispersão de seu legado de voz e silêncio, do real ao inefável.
Maria José de Queiroz | Henriqueta Lisboa: do real ao inefável (1976)
… Esse lirismo que a excetua, uma carícia simples, dor recôndita em sorriso leve e a frase contida – coisas raras na poesia nacional.
Mário de Andrade | Coração magoado (1941)
Nenhuma concessão ao convencional, neste livro, nenhum sentimentalismo fácil. Um grande tato na busca da expressão, com belos achados técnicos, e a exumação da palavra trasflor. Sentimento, há muito, mas, junto com ele, o pudor do sentimento, que dá em resultado poemas densos e tensos como “Elegia”, um poema definitivo.
Mário Quintana | A face lívida (1945)
Cada novo livro de Henriqueta Lisboa mostra a que grau de perfeição técnica vai atingindo a sua poesia, cuja economia de palavras e cuja condensação forte de emoção tem algo de êxtase contemplativo e de definitiva fixação cristalina.
Oscar Mendes | Prisioneira da noite (1941)
Sei – e apoio-me nessa autoridade – que Manuel Bandeira é da mesma opinião: Henriqueta Lisboa é dos maiores poetas em língua portuguesa.
Otto Maria Carpeaux | Mais livros na mesa (1959)
O Poeta se propôs um destino, traçou-se um caminho que ousou seguir, descobriu em si e renovou as suas forças. Aspira à transcendência e a conquista na ciranda suspensa em seus espaços. Para definir Henriqueta Lisboa, escolhi esta sua metáfora: “água menina que se atreve”.
Padre Lauro Palú | Pousada do ser (1982)
Realizando uma dialética funcionalmente lírica entre as coisas, a vida e o sentir dela, a tensão entre a vida e a morte, sendo-no-mundo, Henriqueta Lisboa instaura uma ideologia de Arte para o Homem, num equilíbrio emocional e expressional capaz de revelá-lo (o Homem) de uma maneira nova, em seu eterno e irreversível destino.
Pascoal Motta | Poesia e humanismo: Miradouro e Caraça (1977)
No prodigioso mundo moderno, tecnocrático, bombiatômico, astronáutico, está faltando alma para o tamanho do corpo que se adquiriu. Ela se vê, junto com filósofos, artistas, sacerdotes, educadores, mas principalmente com os poetas – seus irmãos – formando a “sofrida minoria”, dos que lutam para restituir ao ser humano a capacidade de “cumprir seu destino de transcendência”.
Paschoal Rangel | Essa mineiríssima Henriqueta (1987)
Seu último livro não vale apenas pelo que é, mas ainda pelo valor que empresta ao conjunto de uma criação artística admiravelmente coerente.
Sérgio Buarque de Holanda | Flor da morte (1950)
Henriqueta Lisboa é hoje um dos poetas mais puros do Brasil. A forma límpida, cristal sem jaça de sua poesia, a agudeza das imagens, a densidade das palavras, a segurança do ritmo, sua humildade, constituem sua força expressiva e comunicativa.
Sérgio Milliet | Flor da morte e lembrança de Rilke (1950)
A sua lírica se eleva e se avantaja, projetando-se agora, pelo conjunto, pela espiritualidade, pela alta hierarquia do pensamento, pelo equilíbrio entre o efêmero e o absoluto, como algo de sólido, concreto, impressionável e inolvidável dentro da moderna literatura brasileira.
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