"Flagrantes do tempo": uma cartografia do cotidiano - Editora Peirópolis

"Flagrantes do tempo": uma cartografia do cotidiano

Depois da cartografia completa do espaço, os seres humanos deste início de milênio lidam com a cartografia do tempo. As 24 horas de um dia numa grande metrópole são tão estriadas quanto seus espaços. Mergulhada nesse contexto, a poeta Luciana Tonelli resolveu passar ao texto, propondo-se a percorrer com a escrita poética o tema do tempo – ou da falta dele – , surgindo daí Flagrantes do tempo – Poema-reportagem na Pauliceia.

A primeira parte do livro tem como eixo a vivência do tempo no espaço urbano contemporâneo, enquanto a segunda parte é formada de um apanhado de poemas publicados no pequeno livro Flagrantes do poço (coleção Poesia Orbital: Belo Horizonte, 1997), no coletivo Dez Faces e na Revista de Autofagia.

Flagrantes do tempo – Poema-reportagem na Pauliceia contou com o apoio do ProAC – 2009 e foi lançado em São Paulo (livraria Martins Fontes, fevereiro de 2011) e em Belo Horizonte (Centro Cultural da UFMG, durante a ZIP – Zona de Intervenção Poesia &, abril de 2011; registros no blog do poeta e curador Ricardo Aleixo: http://www.jaguadarte.blogspot.com/

Abaixo, o texto de orelha, assinado pela própria autora.

No fim dos anos 80, Sampa para mim era sinônimo de produções culturais que me empolgavam. Itamar Assumpção e seus parceiros reinavam no toca-discos, e visitar a cidade era buscar um pouco do que ouvia. Sampa dos baianos em sua garoa, Tropicália e Modernismo me dizendo de tempos fundadores. Sampa dos Titãs e do Grupo Rumo. Sampa da poesia concreta e seu tempo preciso, do teatro Oficina e seu tempo ritualístico – tudo interessava à jornalista crua em sua peleja para sorver o mundo. O mesmo interesse continua aceso quando vivo a cidade em tempo kairós, o tempo da fruição e da viagem, e encontro escritas como as de Hilda Hilst e Claudio Willer, repletas de tempo sublime.

Entretanto, há três anos vivendo na capital paulista, me vi enredada no paradoxo que costuma desafiar seus moradores: muito a vivenciar, tempo nenhum. Resolvi, então, percorrer com a escrita poética esse tema: a relação que nós, urbanos contemporâneos, travamos com o tempo. Busquei encarar esse paradoxo na sua profunda relação com o modus operandi do mundo pós-moderno, em que São Paulo é um ícone brasileiro.

Assim nasceu o projeto deste livro: de um antigo e profundo mal-estar com os ritmos do mundo, atualizado na megacidade que desejei conhecer, circulando em seus espaços/tempos cotidianos. Os poemas nascem na dureza do tempo cronos em que estamos mergulhados. O tempo do relógio de Quintana, devorador de gente. Daí um “poema-reportagem”, com flagrantes do aqui e agora da cidade.

A segunda parte é uma seleção de poemas de outros tempos e intensidades: “Poemas de ausência” são de Flagrantes do poço (coleção Poesia Orbital – Belo Horizonte, 1997); “Poemas habitados” abrigam personagens femininas deslocadas, borderlines, que me são caras: Estamira, Genésia e Orora; e “Poemas devires” é o tempo passando pela escrita. Nos intervalos, dois “poemanifestos”.

Torço para que estes flagrantes sejam um feliz encontro para você, leitor. Afinal, não temos tempo a perder.


Flagrantes do tempo – Poema-reportagem na Pauliceia foi apoiado pelo Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (2009).

No fim dos anos 80, Sampa para mim era sinônimo de produções culturais que me empolgavam. Itamar Assumpção e seus parceiros reinavam no toca-discos, e visitar a cidade era buscar um pouco do que ouvia. Sampa dos baianos em sua garoa, Tropicália e Modernismo me dizendo de tempos fundadores. Sampa dos Titãs e do Grupo Rumo. Sampa da poesia concreta e seu tempo preciso, do teatro Oficina e seu tempo ritualístico – tudo interessava à jornalista crua em sua peleja para sorver o mundo. O mesmo interesse continua aceso quando vivo a cidade em tempo kairós, o tempo da fruição e da viagem, e encontro escritas como as de Hilda Hilst e Claudio Willer, repletas de tempo sublime.

Entretanto, há três anos vivendo na capital paulista, me vi enredada no paradoxo que costuma desafiar seus moradores: muito a vivenciar, tempo nenhum. Resolvi, então, percorrer com a escrita poética esse tema: a relação que nós, urbanos contemporâneos, travamos com o tempo. Busquei encarar esse paradoxo na sua profunda relação com o modus operandi do mundo pós-moderno, em que São Paulo é um ícone brasileiro.

Assim nasceu o projeto deste livro: de um antigo e profundo mal-estar com os ritmos do mundo, atualizado na megacidade que desejei conhecer, circulando em seus espaços/tempos cotidianos. Os poemas nascem na dureza do tempo cronos em que estamos mergulhados. O tempo do relógio de Quintana, devorador de gente. Daí um “poema-reportagem”, com flagrantes do aqui e agora da cidade.

A segunda parte é uma seleção de poemas de outros tempos e intensidades: “Poemas de ausência” são de Flagrantes do poço (coleção Poesia Orbital – Belo Horizonte, 1997); “Poemas habitados” abrigam personagens femininas deslocadas, borderlines, que me são caras: Estamira, Genésia e Orora; e “Poemas devires” é o tempo passando pela escrita. Nos intervalos, dois “poemanifestos”.

Torço para que estes flagrantes sejam um feliz encontro para você, leitor. Afinal, não temos tempo a perder.

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