Existe uma música já presente no aprender, por Fernando Barba - Editora Peirópolis

Existe uma música já presente no aprender, por Fernando Barba

Prefácio à primeira edição de Muitas coisas, poucas palavras, de Francisco Marques Vírgula Chico dos Bonecos

Fernando Barba

Muitas coisas, poucas palavras…

Essa frase ecoou em minha cabeça após a primeira audição dessa maravilhosa peça radiofônica. Como um ouvinte curioso me envolvi imediatamente na narrativa e vi como as ideias universais de Comênio puderam atravessar os séculos e permanecer atuais ao serem traduzidas com muito carinho e sensibilidade por Francisco Marques e pela poética direção musical de Estêvão Marques.

Tive uma identificação muito grande com as ideias presentes na Didática Magna e a sensação familiar de que nesse discurso as palavras eram em si tão importantes como a maneira na qual elas eram faladas ou cantadas. Em seguida fiquei muito contente em poder contribuir com esse projeto e ao começar fiquei lembrando do meu próprio processo de aprender…

Na minha infância fui arrebatado por uma curiosidade enorme pela música e pelos sons. Na minha lembrança, estudar música era o mesmo que brincar, dar vazão a uma curiosidade e uma vontade enorme de aprender. Gostava tanto de tocar e vivenciar a música que mesmo quando estava sem instrumentos por perto eu começava a batucar em meu próprio corpo. Esses eram momentos de ócio e prazer e ao mesmo tempo exercícios do intelecto, da motricidade e da imaginação, eram estudo e brincadeira juntos. Essa curiosidade de inventar me levou naturalmente a ensinar esses batuques a outras pessoas e isso acabou se tornando minha profissão.

Mais tarde, na minha atividade como músico e como professor desta “música corporal”, observei inúmeras vezes os benefícios que os educadores colhem ao incluir a música, o corpo, a representação, o movimento, a linguagem não verbal e o brincar como ferramentas no processo de ensinar. Existe uma música já presente no aprender. A melodia da voz do professor, o ritmo de sua fala e de seus gestos são referências constantes ao aluno que aprende com todos os seus sentidos.

Nessa visão esse livro cantado é de grande auxílio e utilidade aos educadores das mais diversas áreas. Ele aponta não só ideias essenciais como traz em si exemplos vivos e claros da utilização da arte na sala de aula. A apresentação se dá de uma forma envolvente onde palavras e sons se fundem despertando a curiosidade, a imaginação e o “filosofar” do ouvinte.  As letras das músicas sugerem múltiplas imagens que ilustram poeticamente o texto e as vozes divertidas e melodiosas nos despertam para uma escuta mais aberta e lúdica.

Toda a riqueza dessa ambientação sonora presente no trabalho foi feita utilizando-se de recursos de grande simplicidade e muita poesia. Violões, vozes, instrumentos feitos a partir de sucata e o uso do próprio corpo como fonte musical são elementos que colorem o discurso de Comênio. Fica muito claro nesse lindo trabalho que todos esses recursos musicais, teatrais e lúdicos podem ser utilizados e adaptados facilmente por qualquer professor em qualquer sala de aula como auxiliadores do aprendizado.

Desejo que esse trabalho atinja em cheio os corações de todos nós, educadores, mantendo vivas as nossas brincadeiras e os nossos batuques que são essenciais em nosso ofício de ensinar e aprender.

(Esse texto, escrito por Fernando Barba (1971-2021), foi publicado na primeira edição da peça radiofônica Muitas coisas, poucas palavras.)

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