Entrevista: Renato Rocha conversa sobre o livro-CD lançado no Salão FNLIJ
Agenda do lançamento
Quando: Dia 15 de junho de 2009, às 12h.
Onde: 11o. Salão FNLIJ para Crianças e Jovens, no Espaço FNLIJ de Leitura. End.: Centro Cultural Ação da Cidadania – Avenida Barão de Tefé, 75, bairro da Saúde, Rio de Janeiro.
Entrevista com Renato Rocha
Peirópolis Neste trabalho, o que foi concebido primeiro? A idéia surgiu como livro ou como peça musical?
Renato O embrião do trabalho foi uma das historinhas de ninar que inventei para meus filhos. Essa foi uma das últimas, quando a minha caçula, a Nana, que hoje é uma mulher feita, já estava no fim da fase de ouvir histórias pra dormir. Depois é que, anos mais tarde, transformei em canção. E, mais alguns anos depois, eu e a ilustradora, que por acaso é mãe da menina para quem inventei a história, fizemos uma edição caseira do livro, com a tiragem de um exemplar, com a mesma decupagem de ilustração e da letra da canção, só que a guache. E o livrinho agradou muito em nosso círculo de conhecidos, muitas vezes independentemente deles ouvirem ou conhecerem a canção (cuja gravação, na época, resumia-se a um simples registro de violão e vozes, em fita rolo).
Peirópolis O que ele veio a ganhar quando se transformou em projeto editorial?
Renato Agora, outros tantos anos depois, o livro e a canção receberam, finalmente, um tratamento caprichado por parte da ilustradora, a Sheila, que dessa vez trabalhou com guache e tinta acrílica; da Ignez, a arranjadora, que trabalhou com um quinteto de sopros; e da editora, a Renata, que catalizou todos esses fazeres e fez esse trabalho vir a público, finalmente, ou, talvez seja melhor dizer, inicialmente, pois o livro é também o marco zero da divulgação da canção que ele ilustra.
Peirópolis Quanto ao conteúdo, observamos que você quebra algumas expectativas, a começar por chamar uma flor de “mal-humorada”. O que você buscou, tanto do ponto de vista da história quanto da linguagem?
Renato Imersos, como estamos, num folclore em que o cravo brigou com a rosa, eu não diria que é muito novidadeira a idéia de uma flor com mau-humor. A história é vertical como a gravidade, e a intriga se desenrola como um ioiô que desce e, em resposta ao estímulo inicial, retorna: o peso de uma borboleta provoca uma reação em cadeia que desce da flor para o vaso, do vaso para a mesa, passa para o chão e entra na mãe terra, cujo silêncio sobe de volta até a flor e dá o recado.
Peirópolis Como essa idéia surge na composição?
Renato Quando compus, procurei ilustrar sonoramente a história, fazendo, por exemplo, a flor (que não tem espaço no vaso) cantar espremida num pequeno espaço de tempo e sem poder respirar entre os versos; ou descrevendo a borboleta com uma melodia “borboleteante”. E procurei respeitar a verticalidade do roteiro, descendo e subindo a melodia e pensando timbres com alturas decrescentes para cada personagem, cujas vozes também vão do agudo para o grave. O belíssimo arranjo da Ignez para quinteto de sopros, destinando um instrumento para cada personagem, realiza com maestria essa concepção.
Peirópolis E em termos da linguagem visual?
Renato Em termos de linguagem visual, chegamos a fazer um estudo para um livro vertical, cujas páginas abririam subindo e descendo em sanfona, o que ficaria interessante, mas muito frágil, se feito com papel, e muito caro em outro material. O desafio era também colocar em um livro horizontal uma história que se desenvolve verticalmente. Mas o belíssimo “arranjo” da Sheila para “sexteto de cores” deu conta do recado.
Peirópolis Como você classificaria a obra, tanto do ponto de vista literário quanto musical? Seria uma opereta?
Renato Do ponto de vista literário, eu diria que a “A flor mal-humorada” é um poema que conta uma história. Do ponto de vista musical, acho que, em termos de gênero, seria uma opereta se o narrador falasse, mas, como o narrador canta, eu arrisco dizer que se trata de uma pequena ópera infantil (assim mesmo, apesar de que “opereta” signifique “pequena ópera”, o gênero tem um feitio diferente, segundo entendo; musicais como “A noviça rebelde”, por exemplo, onde há diálogos falados e partes cantadas, eu chamo de opereta).
Peirópolis Você já apresentou “A flor mal-humorada” como espetáculo alguma vez? Tem planos de fazê-lo?
Renato A canção sozinha não dá um espetáculo, mas bem que ela pode render se for encenada num palco, entre outras encenações de canções infantis. Existe idéias, sim, para uma animação com bonecos.
Créditos do livro e do CD:
O texto e a composição são de Renato Rocha, que também empresta a sua voz ao narrador. As ilustrações são de Sheila Dain e o arranjo musical de Ignez Perdigão.
Renato Rocha: composição, violão
e voz do narrador
Ignez Perdigão: arranjo e regência
Mariana Bernardes: voz da flor
Luciana Lazulli: voz da mesa
Sérvio Túlio: voz do vaso
Andrea Ernest Dias: flauta
Luis Carlos Justi: oboé e corne-inglês
Mauro Ávila: fagote
Philip Doyle: trompa
Ricardo Ferreira: clarinete
Gravação no Estúdio Sinfônico da Rádio MEC
Técnico: André Tacha
Mixagem: William Jr.
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