Curadoria: Crescer e Partir
Para apoiar os educadores na escolha dos títulos a serem trabalhados nas escolas, a Editora Peirópolis está desenvolvendo uma proposta de curadoria de leituras. A cada mês, será enviada às escolas uma publicação digital com foco em um tema. A partir desse foco, elegemos uma “família” de obras que dialogam com o assunto, buscando apresentá-las, contextualizar sua pertinência e sugerir propostas para serem desenvolvidas com os estudantes. O material é elaborado por especialistas de acordo com as habilidades e competências previstas na BNCC.
A curadoria específica denominada Crescer e Partir, elaborada a partir das duas obras de Tamara Klink – Um mundo em poucas linhas e Mil Milhas –, apresenta a autora e suas obras e propõe desdobramentos das leituras com foco nos projetos de vida, gêneros literários (relato de viagem e poesia), além do olhar para as produções de textos em diferentes formatos e mídias, dialogando com as novas perspectivas do ensino médio e anos finais do ensino fundamental.
Essa curadoria foi desenvolvida por Ana Carolina Carvalho, mestre em educação (Unicamp) e psicóloga (USP). É formadora pelo Instituto Avisa Lá, membro do Instituto Emília e colaboradora da Editora Peirópolis.
Baixe, leia, compartilhe.
Curadoria - Crescer e Partir - Peirópolis
Clique aqui para baixar ou visualizar
Crescer e partir
Diálogos com os jovens na escola – uma proposta de leitura e aproximação de relatos e poemas da jovem escritora e velejadora Tamara Klink
por Ana Carolina Carvalho
Educador, educadora, Neste material você vai encontrar algumas possibilidades de leitura e desenvolvimento de propostas com os jovens estudantes dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio a partir da leitura de duas obras literárias escritas por Tamara Klink.
Ainda que a leitura literária dessas obras já se configure como uma experiência em si, pela possibilidade de fruição estética, pode-se também ir além ao considerar desdobramentos da leitura, que dialoguem tanto com o contexto de vida dos jovens leitores, como com aspectos da formação leitora e educação literária dos estudantes, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Bom trabalho!
Sobre os livros
Um mundo em poucas linhas apresenta poemas e textos em prosa poética sobre viagens variadas que Tamara fez desde criança com sua família, além de reflexões sobre a vida, a adolescência, os amores, o desenvolvimento e as muitas experiências de deslocamento e travessias: as que envolveram viagens propriamente ditas e aquelas que todos nós fazemos ao crescer e nos lançar na vida. Os textos de gêneros diferentes conversam entre si e mostram o caminho nem sempre linear da autora em seu processo de amadurecimento. Buscando guiar-se pelo sentido das experiências, nem sempre a composição dos textos no livro segue uma ordem cronológica, e sim afetiva, daquilo que foi vivido.
Mil milhas revela, por meio do relato de viagem, poemas, desenhos, os sentimentos, as descobertas, as dúvidas, os riscos e os acertos vividos pela jovem navegadora, quando aos 23 anos, resolve empreender a sua primeira viagem em solitário em um pequeno veleiro que parte da costa da Noruega e viaja até a França.
Embora tenha se preparado para essa empreitada ao longo da vida, a decisão de realizar essa viagem acontece de forma um tanto súbita e traz muitos desafios para Tamara. Todo o processo que envolve o planejamento da viagem, a compra do barco e a sensação de tê-lo, as dificuldades e receios das primeiras saídas, a intimidade que vai sendo construída entre a navegadora, a Sardinha (nome dado ao barco) e o mar do norte, os sustos e as conquistas são compartilhados com o leitor.
Há certamente um caráter épico nesta aventura, contudo Tamara não demonstra receio de compartilhar aquilo que nos une como seres humanos: os medos, aflições, anseios, e especialmente, o desejo e os sonhos.
Por meio de suas reflexões pessoais e íntimas sobre a coragem, o medo, a travessia em solitário, a navegação feminina, as relações com a sua origem familiar e os afetos envolvidos no seu crescimento e desenvolvimento, o leitor perceberá que são muitas as viagens contidas neste livro.
A edição ainda conta com fac-símiles do diário da autora, mapas do trajeto feitos por ela mesma, poemas visuais e ao final, uma seleção de fotos de Tamara em diferentes momentos da vida: na infância, com sua família, e algumas imagens de momentos cruciais vividos na Noruega, ao comprar o barco, e durante a travessia pelo mar do Norte. As fotos estão permeadas de desenhos e legendas escritas por Tamara, ampliando a relação que vai se estabelecendo entre o leitor e autora.
O box – Crescer e Partir
A decisão de compor um box com os dois títulos – Um mundo em poucas linhas e Mil milhas – possibilita ao leitor navegar por diferentes momentos, linguagens e experiências vividas e registradas por Tamara Klink. O caminho a ser feito na leitura fica nas mãos do leitor, que elege por onde deseja começar a ler e seguir adiante. Abrir cada um dos livros é como entrar no mundo de Tamara e estar com ela em suas travessias.
Se desejar começar lendo Mil milhas pelo relato, o leitor conhecerá detalhes da primeira viagem em solitário de Tamara, e depois poderá reencontrar a voz poética da jovem navegadora, condensando nos poemas escritos e visuais, a experiência vivida: o que o texto em prosa expande, pulsa de maneira sintética nos poemas, compondo uma conversa entre as duas formas que convida o leitor a refletir sobre a diferença entre as duas linguagens.
Se desejar começar lendo Um mundo em poucas linhas, o leitor seguirá outro caminho, percorrendo travessias e viagens anteriores, costurando o passado com experiências mais recentes contidas nos poemas, indo e vindo nesse trajeto, e, nessa costura, poderá refletir ao encontrar os relatos de viagem e poemas do Mil milhas: quais são os ecos daquela menina que viajava em família e que se descobria crescendo e se fazem presentes na jovem navegadora que finalmente partiu em solitário? Enfim, há muitas possibilidades de ligações entre as leituras e, ao retornar aos livros em diferentes momentos, o leitor poderá compor variados retratos da autora.
Sobre a autora
Tamara Klink (nascida em São Paulo, em 1997) é uma jovem navegadora, escritora e comunicadora brasileira. Iniciou seus estudos em arquitetura na Universidade de São Paulo, mas a paixão pela navegação a levou para a França, onde cursou um Master na École Supérieure d’Architecture de Nantes, especializando-se em arquitetura naval.
Em 2021, Tamara empreende sua primeira travessia em solitário, navegando pelo mar do Norte, desde Noruega até a França. Para realizar essa viagem, compra um pequeno barco com suas economias, lançando-se numa aventura há tempos acalentada.
Por meio de registros em vídeos, desenhos, diários e poemas ela divide suas experiências como navegadora, seus processos de crescimento, os desafios encontrados pelo caminho e as inúmeras descobertas com seus leitores/espectadores/internautas, inspirando jovens a acreditar em seus sonhos e assumir o comando de suas travessias.
Sua experiência como escritora começou cedo, com a publicação do livro Férias na Antártica, em 2011, escrito em parceria com as irmãs Laura e Marininha e desde então, amplamente adotado no ensino fundamental em escolas de todo o território nacional. Dez nos depois desta primeira publicação, Tamara estreia autoria em solitário, com os livros Um mundo em poucas linhas e Mil Milhas, títulos que trazem relatos de suas viagens, poemas e desenhos da autora.
Conhecendo a autora em outras mídias
Além dos livros, Tamara utiliza diferentes linguagens e meios de comunicação para se expressar, como o instagram e o canal no Youtube.
Nessas mídias, também nascem textos e diferentes conteúdos, em forma de relatos, poemas e imagens.
Para conhecê-la melhor e compor um retrato por meio de diferentes linguagens, sugerimos uma visita a esses canais:
Tamara na web
Instagram: https://www.instagram.com/tamaraklink/
YouTube: https://www.youtube.com/c/TamaraKlink
Propostas de aproximação das obras na escola
Projeto de Vida – diálogos com a travessia de cada leitor ou de cada leitora
Ser no mundo
Na adolescência, os jovens começam a se projetar para a vida adulta, pensar no que podem e desejam ser fora da escola, e quais decisões tomarão sobre os rumos de suas vidas. Não se trata apenas de pensar na profissão, mas na inscrição de cada um no mundo. O que tem mais a ver com o percurso daquele jovem?
No que diz respeito à escolarização, é durante o período dos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio que essas questões se colocam com mais força. E a escola é certamente o lugar em que os estudantes devem começar a pensar em ancorar seus projetos para que depois possam partir. Isso também significa dizer que a escola precisa proporcionar essa costura entre o que o jovem é e faz, a sua bagagem, a experiência vivida e os conhecimentos que ele construiu, com as possibilidades do seu fazer no mundo. Este é o período em que o estudante começa a se perguntar: quem sou eu? Essa pergunta, claro, nos acompanha ao logo da vida, mas na adolescência, época de tantas mudanças, mais ainda, porque se quer saber, se precisa saber: quem eu posso ser no mundo? E para o mundo?
A própria BNCC estabelece que a escola necessita “[…] assegurar-lhes uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes definir seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como também no que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e éticos.” (p. 463)
Em conjunto, os livros de Tamara possibilitam justamente que o leitor ou a leitora, ao refletir sobre o percurso da autora, possa pensar no seu próprio caminhar, na própria travessia: quais trajetos fazem mais sentido? E quais são os desafios a encarar nesse percurso escolhido?
Há muitos trechos nas obras que inspiram essas reflexões, como o poema que vem a seguir.
Além de possibilitar uma reflexão sobre o projeto de cada um, esse poema – e tantos outros trechos das duas obras – também apontam para uma ousadia, um ir além. Lançar-se. Com dedicação e planejamento.
Retomando a LDB, a BNCC do Ensino Médio, reforça alguns aspectos ligados à educação integral dos jovens a serem atingidos, entre outras coisas, por meio “da firme convicção na capacidade que todos os estudantes têm de aprender e de alcançar objetivos que, à primeira vista, podem parecer além das suas possibilidades”. Nos vídeos a seguir, tudo isso fica bastante claro:
Buscar o Barco
Neste vídeo, lançado em 27 de agosto de 2020, Tamara fala sobre a compra de seu primeiro barco, a Sardinha. Discorre a respeito das sensações, dificuldades, expectativas e tudo que vem com esse grande passo inicial rumo à sua conquista.
Crescer e Partir
Neste vídeo, lançado em 3 de setembro de 2020, Tamara finalmente comprou seu barco e vai contar à sua família sobre seus sonhos e objetivos.
E algumas questões podem ser levantadas a partir dos vídeos e da experiência de Tamara, para que cada jovem reflita:
- Quando a gente se dá conta que cresceu?
- O que é crescer?
- Quando podemos tomar decisões e seguir nosso rumo?
- O que trazemos na mala? Qual é nossa bagagem existencial?
Além dessas questões, pode-se ampliar as reflexões sobre o que significa ter um projeto de vida, considerando diferentes dimensões:
Dimensão Pessoal: autoconhecimento
- É destino ou caminho? Destino é algo dado, que costumamos projetar no futuro. E o caminho? Como podemos diferenciá-lo do destino? No caso de Tamara, era destino tornar-se navegadora por ter nascido naquela família? Ou foi um caminho escolhido?
- Tamara empreende um longo processo de autoconhecimento. Como isso transparece nas diferentes linguagens que ela usa para se expressar? O que podemos conhecer sobre ela depois de termos lido os dois livros e explorado alguns vídeos?
Dimensão Social: impactos do entorno imediato
- Não fazemos nada sozinhos. Família, comunidade e escola contribuiem em nossas decisões. Como essas diferentes instâncias influenciaram o caminho de Tamara?
Dimensão Profissional: atuação produtiva
- Para colocar no mundo um projeto, é preciso ter objetivos claros, mas ir além deles. É preciso planejar: pensar nas etapas necessárias para se alcançar aqueles objetivos, nos recursos, nos prazos. Tudo isso fica muito claro no percurso de Tamara, certo? É possível retomar seu percurso?
A partir dessas reflexões, pode-se propor aos estudantes registrarem:
- Que caminho você escolhe tomar hoje? Como esse caminho reflete quem você é?
- Como seu entorno o influenciou nessa escolha?
- Como planejá-lo? O que você acha que seria importante considerar nesse planejamento?
Ao longo do ano ou dos anos finais da escolaridade, pode-se retomar os registros, observando o que se mantém e o que se modifica em seu percurso e projeção.
Aprofundando o gênero relato de viagem
O relato de viagem é um gênero não ficcional, que guarda algumas características: escrito em primeira pessoa, narra a experiência de uma viagem do ponto de vista do autor ou autora. Embora tenha essa perspectiva autoral e subjetiva, apresenta fatos, situando-os no tempo e nos lugares em que ocorreram. Desse modo, podemos dizer que o relato estabelece com leitor um pacto de não-ficção: o que será narrado tem pertinência no acontecido.
Embora esteja no terreno da não-ficção, não podemos deixar de mencionar o quanto a literatura está permeada, desde a sua origem, por histórias e relatos de viagens. Dentre as obras mais antigas e conhecidas, podemos citar: Odisseia, de Homero, poema épico que narra as aventuras de Ulisses ou Odisseu, um dos heróis da guerra de Tróia, na volta para a sua casa, em Ítaca; Os Lusíadas, de Camões, também um poema épico que narra as navegações ultramarinas do século XVI, as grandes conquistas do povo português e a viagem de Vasco da Gama às Índias; As viagens, de Marco Polo, escrito no século XIII, o livro foi ditado a um companheiro de prisão de Marco Polo, Rustichello, autor de romances de cavalaria. Também conhecido como Il Milione, relata o que Marco Polo viu e conheceu ao viajar para a China, entre outros títulos clássicos que seguem lidos até hoje.
Se pararmos para pensar, inclusive, podemos nos dar conta de que a chegada da Língua Portuguesa ao Brasil se deu por meio de uma viagem e do seu relato: a Carta de Pero Vaz de Caminha traz visões sobre a chegada ao novo mundo, muito antes de ser Brasil, e foi escrita em 1500. É provável que os relatos e as histórias de viagens sejam tão antigos e persistam no mundo porque abarcam uma necessidade humana: desvendar o estrangeiro, conhecer outros mundos, lançar-se por mares nunca dantes navegados…
Aliás, necessidade humana, de homens e mulheres, embora historicamente muito mais associada ao gênero masculino. Por isso mesmo, a obra de Tamara torna-se também muito relevante ao apresentar a faceta do protagonismo feminino. Em suas entrevistas, a jovem velejadora costuma afirmar: “o mar não liga se sou homem ou mulher”, fazendo-nos refletir o quanto essa ideia de que velejar faz parte do mundo dos homens e que seria mais arriscada para as mulheres é mais uma construção social, sem paralelo nas condições reais que se apresentam a ambos os gêneros. Ao conhecer o universo de Tamara Klink, o leitor ou a leitora também poderá entrar em contato com a história de outras mulheres velejadoras que, inclusive, foram inspiração para Tamara. Dentre as mulheres que ela costuma citar, estão a britânica Ellen MacArhur, que velejou em solitário ao redor da Inglaterra com apenas 19 anos e, em 2005 bateu o recorde de volta ao mundo mais rápida; e a brasileira Izabel Pimentel, que foi a primeira latino-americana a cruzar o Oceano Atlântico em solitário em 2006, e a fazer uma volta ao mundo também sem companhia no barco em 2012.
Ao falar de sua escrita, Tamara Klink gosta de repetir essa frase. A escrita de fato, fixa o acontecimento que sempre pode ser fugidio, um pouco ao modo do diário, que tenta guardar o tempo e fatos cotidianos. Sem a escrita, esses acontecimentos poderiam se perder, ficando embaçados nas lentes do passado.
No caso do Mil milhas, livro que apresenta um relato de viagem, ele de fato nasce de um diário da autora. Ainda que tenha sido escrito originalmente como diário, Tamara o escreveu com vistas à publicação, ou seja, para ser lido por outras pessoas. Ainda assim, seus diários narram muitos momentos íntimos e interlocuções consigo mesma, como pede esse gênero. Contudo, mesmo na escrita do diário, as características do gênero relato de viagem se fazem presentes, tais como a descrição de trechos de viagem e as dificuldades vividas no percurso, com seus desafios, medos e conquistas.
Uma das aproximações possíveis à obra Mil milhas pode ser por meio do gênero. À altura dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, é bastante provável que os estudantes já tenham tido contato com outros relatos de viagem. Portanto, começar a conversa relembrando quais obras do gênero eles conhecem pode ser uma estratégia.
A partir das respostas, pode-se solicitar que os estudantes que já leram relatos de viagem façam um levantamento das principais características de que se recordam. Caso não se lembrem de imediato dos títulos lidos, você poderá listar alguns livros mais conhecidos.
Dentre as obras escritas por autores brasileiros, pode ser que já tenham lido a célebre Cem dias entre céu e mar, escrita pelo Amyr Klink, pai de Tamara. Neste livro, o velejador relata a travessia do oceano Atlântico que fez em solitário num barco a remo, nos anos de 1980. Há também o livro Expedição Oriente: 821 dias de uma volta ao mundo escrito por Heloísa Schurmann. Dentre as obras da literatura universal, há outros livros que podem ser conhecidos da turma, como A viagem de Beagle, de Charles Darwin, Na estrada, de Jack Kerouac e Volta ao mundo em 72 dias, de Nelly Bly.
Caso os alunos não tenham referências sobre outras obras, você pode iniciar a conversa questionando-os sobre as características que imaginam que um relato de viagem tenha, registrando as respostas para que sejam retomadas após a leitura.
Depois de ler, é possível planejar encaminhamentos variados: propor uma rodada de releitura dos trechos mais marcantes da obra, uma conversa sobre os impactos que a leitura teve em cada um (ou em quem desejar falar sobre isso), retomar as características que conheciam ou anteciparam sobre o gênero, complementando com o que foi observado, realizar uma busca sobre outras informações sobre a viagem, em sites, blogs, entrevistas publicadas em jornais, revistas ou transmitidas pela televisão e rádio, localizando trechos do livro que foram citados na entrevista, comparando as diferentes linguagens e efeitos causados nos leitores.
Ao final, pode-se também propor que os estudantes escrevam seu próprio relato de viagem, tomando uma experiência vivida como ponto de partida para a escrita, que deverá ser compartilhada com outros leitores (da própria turma ou pessoas da comunidade escolar). Para além da escrita, é possível também refletir com o grupo sobre o formato que o relato terá ao ser compartilhado com os leitores. No caso do Mil milhas, desenhos, mapas, fotos e poemas visuais ajudam a compor a experiência da leitura, apresentando outras referências aos leitores. O que o grupo elege para compor o texto escrito?
Poesia contemporânea na escola
Outra forma de entrada nas obras de Tamara pode ser dar pela poesia, já que as duas obras têm caráter híbrido e são recheadas de poemas, que, junto com os textos em prosa, apresentam outra forma de contato com a experiência da jovem navegadora.
Aliás, a leitura desses dois títulos pode ser uma ótima oportunidade para que os estudantes se aproximem da poesia contemporânea brasileira, cuja produção é vasta e, em geral, pouco lida na escola. Pelo fato de serem escritas no mesmo tempo em que vivem os jovens, trazendo temas próximos e relevantes à sua existência, podem contribuir para o interesse e familiarização com o gênero, despertando a vontade de conhecer mais sobre a poesia, autores e autoras, e explorando também outros canais de circulação desses textos, fruindo a produção poética contemporânea nas diferentes linguagens em que costumam aparecer: no livro, por meio de videopoemas, em sites, blogs, saraus digitais etc.
O conhecimento de diferentes vozes e produções dará aos jovens um panorama do que tem sido produzido atualmente. A variedade de temas e autores poderá fornecer elementos para que os jovens organizem pequenas coleções ou antologias em arquivos digitais que podem ser compartilhadas com outros leitores. É possível, por exemplo, buscar vozes femininas para compor uma das antologias, autores e autoras com menos de 30 anos, vozes negras ou antologias temáticas. Desse modo, ao realizar a curadoria de tais textos, os jovens também se colocam como leitores singulares, que avaliam o que há em comum entre os textos, aproximando-os na composição do arquivo, refletindo sobre as conversas possíveis entre eles.
Multiletramentos: escrita em meio digital; poemas no Instagram; vídeos e livro: formação do leitor/ouvinte/ produtor/consumidor
Formar o leitor e aquele que se comunica por meio da linguagem escrita significa ir além do suporte de papel. É preciso trazer para o contexto da escola os multiletramentos, que envolvem práticas sociais e de linguagem no meio digital. De acordo com a BNCC do Ensino Médio: “Do ponto de vista das práticas contemporâneas de linguagem, ganham mais destaque, no Ensino Médio, a cultura digital, as culturas juvenis, os novos letramentos e os multiletramentos, os processos colaborativos, as interações e atividades que têm lugar nas mídias e redes sociais, os processos de circulação de informações e a hibridização dos papéis nesse contexto (de leitor/autor e produtor/consumidor), já explorada no Ensino Fundamental”. (página 498)
Tamara é escritora e comunicadora, lança mão de variados suportes de escrita e de expressão, propondo não apenas um diálogo entre eles, mas também uma sobreposição de linguagens para comunicar aquilo que deseja. Sua escrita nasce tanto no suporte de papel, os diários que leva consigo nas viagens, quanto no meio digital, em textos publicados no Instagram ou vídeos no YouTube, que têm uma interlocução direta com o público. A escrita em papel sofre influência daquela que nasce em meio digital, como por exemplo, em seu formato, pontuação, disposição do texto na página. A troca direta com os seguidores (público leitor) também traz influências para o escrito. Além disso, a escrita que nasceu em meio digital também se transforma, quando é passada para o livro.
Ao acompanhar a produção da autora nas redes sociais e observando a materialidade do texto no livro, o que é possível refletir a respeito das diferentes experiências de leitura? Como isso impacta a relação de cada um com os textos lidos? Quais suportes atraem mais cada leitor? Por quê? Sobre o efeito de duração do texto nos leitores: será que o formato influi na maior ou menor permanência do texto em cada um? Vale também questionar a respeito das transformações que a escrita sofre em um suporte e que se mantêm quando levada para outro. Em alguns textos de Tamara, por exemplo, a pontuação incomum apresentada no Instagram para reforçar a mudança de parágrafos ou versos, sobrevive no papel, e acaba por impactar a leitura do livro.
Entrelaçando linguagens: vídeos e o livro Mil milhas
Alguns vídeos disponíveis no canal de Tamara Klink no YouTube, dialogam diretamente com o livro Mil milhas. Foram elaborados quase concomitantemente à viagem e há um pouco de cada um no outro. Há vídeos que revelam a preparação que Tamara empreendeu para que pudesse viajar em solitário, ao mostrar episódios da viagem que fez da França à Noruega, onde encontraria o amigo que a ajudaria a colocar seus planos de viajar sozinha em ação. Esse material pode ser encontrado em:
Contornar Navios
Neste vídeo, lançado em 6 de agosto de 2020, Tamara faz uma ponte entre o que aprendeu em Nantes e a realidade de estar à frente de um barco, navegando em águas reais, em condições reais, frente aos desafios que o mar apresenta.
Céu Aceso
Neste vídeo, lançado em 13 de agosto de 2020, Tamara continua a nos mostrar as diferenças entre os estudos e a prática. Também apresenta sua rotina no mar, que é bem diferente do que na terra, bem como a importância de sugar todo conhecimento possível de seus instrutores enquanto há tempo, pois logo estará só naquele infinito.
Costurar Caminhos
Neste vídeo, lançado em 23 de agosto de 2020, entre um clima chuvoso, Tamara começa a sentir o que lhe espera quando fica sozinha em seu próprio barco. Discorre sobre os possíveis desafios e medos que enfrentará. Pensa em como contorná-los e traça planos, relembra tudo o que aprendeu e como colocá-los em prática.
Há também vídeos que mostram a compra do barco e a preparação da embarcação para a travessia do mar do Norte, como Sozinha, Riscos, Buscar o barco e Crescer e Partir e existe o Pegar no sono, na qual Tamara abre o coração e conta como é partir para sua travessia em solitário:
Pegar no Sono
Neste vídeo, lançado em 10 de setembro de 2020, Tamara finalmente vai sair em solitário. O medo, o planejamento, as expectativas, os aprendizados, as pessoas em sua vida, o passado, o presente, o futuro. Tudo isso passa velozmente pela cabeça da jovem velejadora que se preparou por tanto tempo para esse momento: “Imagina dormir enquanto dirige um carro em uma estrada esburacada?”.
A partir da exploração dos vídeos documentais da viagem e da leitura do livro Mil milhas, pode-se refletir com os estudantes sobre:
- Como essas duas linguagens conversam?
- Quais são os recursos que estão na escrita e não podem ser encontrados no vídeo, e vice-versa?
- Como se complementam?
- De que modo as expressões pessoais da Tamara estão presentes nos textos e vídeos?
- Sobre o relato de viagem: de que maneira o vídeo potencializa a experiência de estar junto e acompanhar Tamara em sua travessia? E como o texto nos aproxima da experiência?
Ao conhecer diferentes meios para divulgar e compartilhar as experiências, os estudantes podem ampliar olhares para a forma e o formato desses suportes, reconhecendo seus recursos e possibilidades. Assim, podem aprender a ler melhor não apenas esses, mas outros textos, e assistir com uma atenção diferenciada a outros vídeos documentais.
A família: uma bússola para as travessias da vida
Não é de hoje que sabemos que Tamara Klink veio de uma família cujas experiências são de viagens em alto mar. Seu pai, Amyr Klink e sua mãe, Marina Bandeira Klink, velejadores experientes, sempre incentivaram e levaram as filhas em suas aventuras. Pode ser que tenha vindo daí a vontade de ser arquiteta naval e se lançar no mar, mas também pode ser que não. A questão é que a família para Tamara tem influência sobre sua forma de ver e viver a vida, é um porto seguro, uma âncora, um suporte. Volta e meia, pai, mãe e irmãs aparecem em sua prosa e poesia. No livro Mil milhas, há um caderno de fotos que ilustra essa força que recebe dos seus familiares e que foram reproduzidas aqui.
Estante de livros
Mil milhas
Tamara Klink, ilustrado por Tamara Klink/Laura Klink
13 x 20 cm • 196 páginas • 2 cores • ISBN 978-65-5931-108-8
Livro digital • ISBN 978-65-5931-106-4
A preparação foi longa. Durou precisamente 24 anos para que a jovem Tamara Klink se descobrisse finalmente preparada para a partida para a sua primeira viagem em solitário, da Noruega até a França, no pequeno e recém-adquirido veleiro a que chamou Sardinha, o passo inaugural na direção do sonho de tornar-se uma navegadora.
Foi o tempo de crescer, de entender e acalentar seus próprios sonhos e tomar suas decisões, ir e voltar graças a seu próprio desejo. Estar distante da família para entender-se parte dela.
O livro mistura relatos de viagem, poemas e desenhos que revelam a intimidade e os desafios dessa viagem que, embora planejada, trouxe enormes desafios e aprendizados para a velejadora.
Um mundo em poucas linhas
Tamara Klink, ilustrado por Tamara Klink/Laura Klink
13 x 20 cm • 172 páginas • 2 cores • ISBN 978-65-5931-107-1
Livro digital • ISBN 978-65-5931-109-5
Tamara tem um projeto de vida: ser navegadora. Leva consigo a coleção de aprendizados de várias viagens com a mãe, irmãs e na companhia do pai, o velejador Amyr Klink. Mas segue passos próprios. Aos vinte e poucos anos, decidiu morar e estudar arquitetura naval na França, como parte do seu plano: realizar expedições que exigem uma preparação incomum para alguém da sua idade. E é justamente essa longa travessia que está presente em sua obra — não só aquela marcada por ondas e ventos, necessidade de içar velas ou de se lançar ao mar — mas os percalços de outro caminho, aquele que fazemos da adolescência para a vida adulta. Uma jornada heroica pela qual todos passamos, na terra ou no mar.
Um mundo em poucas linhas reúne poemas e textos em prosa poética sobre as viagens variadas que Tamara fez desde criança com sua família, além de reflexões sobre a vida, a adolescência, os amores, o crescimento e as muitas experiências de deslocamento e travessias.
Um livro sobre a beleza de se construir como ser humano, com liberdade, alegria e coragem para viver e seguir seus próprios caminhos.
Crescer e Partir – box
Tamara Klink ilustrado por Tamara Klink/Laura Klink
13 x 20 cm • 196 páginas • 2 cores • ISBN 978-65-5931-103-3
Livro digital • ISBN 978-65-5931-104-0
Tamara Klink viaja desde pequena na companhia da família. Mas sempre planejou “navegar consigo mesma”, e foi construindo as condições para isso enquanto crescia. Aos 24 anos, formou-se em arquitetura naval em Nantes, na França, e concluiu sua primeira viagem em solitário pelo Mar do Norte – detalhe: no próprio veleiro, recém-adquirido e apelidado Sardinha.
Seus relatos em prosa, traço e verso estão reunidos neste box com os dois livros da autora: Mil milhas, com poemas, desenhos e o relato da viagem, e o livro Um mundo em poucas linhas, com poemas e textos em prosa poética sobre as viagens realizadas em família e as diferentes travessias que fez ao longo da vida.
Em Mil Milhas, acompanhamos Tamara em sua travessia geográfica, heroica e pessoal durante os meses em que preparou e realizou a viagem. Temos em mãos o diário que ela escreveu ao longo das mil milhas percorridas. Em seus escritos, ela nos conta não apenas sobre como navegou pelo mar do Norte e enfrentou desafios sozinha em seu pequeno e primeiro barco, colhendo medos e alegrias, mas também sobre como essa viagem significou poder crescer e dar-se conta da própria envergadura: virar adulta. Travessia que todos nós precisamos realizar em vida, onde quer que estejamos e por onde escolhemos realizar nosso trajeto: na terra ou no mar.
Em Um mundo em poucas linhas, Tamara nos mostra tudo aquilo que se pode sentir ao crescer: reconhecer as raízes ao estar só, sentir saudade e desejar voltar, descobrir-se capaz e querer seguir, colocar-se em dúvida, atravessar e se firmar em suas escolhas e travessias. E, assim, os escritos de Tamara nos contam que viver parece com deslocar-se e experimentar. Este livro ressoa não apenas em jovens leitores, que vivem intensamente as mudanças provocadas pelo crescimento e suas descobertas, mas também naqueles que sabem reconhecer a vida como um eterno movimento de crescer e partir para novos recomeços.
Férias na Antártica
Laura, Tamara e Marininha Klink, ilustrado por Zinne Estúdio
23 x 25 cm • 70 páginas • 4 cores • ISBN 978-85-7596-360-9
Livro digital • ISBN 978-85-7596-445-3 (Kindle) • 978-85-7596-426-2 (ePub)
Livro premiado!
Três irmãs, duas idades diferentes, três visões de mundo, todas no mesmo barco, de férias na Antártica. Conheça neste livro o delicado equilíbrio do planeta e, de quebra, o divertido jeito de encarar o mundo das jovens Laura, Tamara e Marininha, filhas do navegador Amyr Klink e da fotógrafa Marina Bandeira Klink. Nos relatos de viagem, estão as lembranças de cinco expedições em família ao continente antártico, onde focas, pinguins, baleias e muitos outros animais especiais passam o verão. Com ainda pouca vivência, elas já sabem e entendem que nosso planeta precisa de cuidados e que, onde quer que a gente viva, nossas atitudes refletem em lugares muito distantes daqui.
Para facilitar o alcance mais de crianças no Brasil e no mundo, a editora Peirópolis lançou o livro em uma versão adaptada para o inglês.
Vacation in Antarctica
Laura, Tamara e Marininha Klink, ilustrado por Zinne Estúdio
23 x 25 cm • 70 páginas • 4 cores • ISBN 978-85-7596-360-9
Every child likes to listen to stories, and to tell stories too. But the stories by sisters Laura, Tamara, and Marininha do not speak of kings, queens, princes or princesses, though the plot is really charming. They speak of super-special holidays aboard sailboat Parati 2, built by their renowned father Amyr Klink. Here they recall five family expeditions to the Antarctic Continent, where seals, penguins, whales, and many other animals spend their summer. Besides logging all the information on their journey, this book brings about important considerations on nature and how our attitude may reflect upon the entire planet.
Proposta pedagógica
A Editora Peirópolis disponibiliza, em formato PDF, proposta pedagógica elaborada por Regina Moraes Abreu para o livro Férias na Antártica. O objetivo deste material é sugerir ao educador formas de explorar conteúdos conceituais e atitudinais de língua portuguesa, artes, atualidades, ciências, geografia e orientação educacional, partindo do interesse dos alunos por buscar informações complementares sobre as vivências e observações descritas pelas autoras em seu relato de viagem.
Proposta pedagógica - Férias na Antártica
Add Comment