A arte da vida nas histórias - Editora Peirópolis

A arte da vida nas histórias

Gosto de ouvir histórias e de ler histórias.

Sempre gostei de ouvir e de ler histórias.

Muitas vezes gosto ainda mais de tocar, sentir o sabor e até mesmo o perfume de histórias reencontradas em objetos antigos e lances de dados perdidos em meus armários, estantes, gavetas, com amigos que revejo após longo tempo sem convivência, quando então memória e vida se condensam e despertam mais uma página do romance que escrevemos pelo prosseguir da existência.

Ouço, leio, cheiro, seguro e me alimento de histórias.

Interrogo histórias.

Por meus sentidos associo com preciso prazer as histórias que encontro.

Se assim não fosse, certamente jamais teria escrito qualquer história de meus livros publicados. E quantas vezes encontro um primo, um vizinho, um colega de escola, uma cliente da clínica de meu pai, uma namorada de adolescência, um fortuito companheiro de viagem num personagem inventado, presente em algum de meus contos. Quantas vezes encontro um fato vivido, lido na vida, em certa nuance da intriga, do enredo de uma ou outra das histórias que escrevi.

Assim é comigo. E assim deve acontecer com qualquer escritor. O que me leva a crer que o escritor gosta bem mais de conviver com histórias do que de escrever histórias.

A bem da verdade, creio que o escritor é essencialmente um leitor. Sempre um leitor às voltas com a arte da vida transfigurada por palavras.

Lição de Machado de Assis

O que concluo, porém, é pouco. É tão somente metade da verdade que se completa num desejo de Machado de Assis.

Entendia o maior de nossos escritores que qualquer livro devia trazer na capa e na folha de rosto interior, além do nome do próprio autor, um espaço, uma linha em branco, onde caberia a cada leitor anotar seu nome, apossando-se de uma legítima co-autoria, pois que cada leitura de qualquer livro é uma sensível re-escritura do lido quando bem lido o livro.

Assim, ler é reescrever e cada leitor um escritor ao ler.

Nenhuma Capitu é a mesma no entendimento de quem a encontra nas páginas de ?Dom
Casmurro?.

Creio que sim, e tal constatação sempre me desequilibra nas ocasiões em que converso com alguém que leu alguma de minhas histórias.

Isto por conta de perturbadora sensação que me alcança e se faz presente, desconfiado de que me faltou algum lance no que escrevi, lance de dados que o leitor me comunica por suas impressões a propósito de uma personagem ou da intriga na aventura da história reescrita por ele.

Situação às vezes até espetacular, na contradição que me instaura.

Certa feita, com a ânsia de ser lido, passei a uma aluna o texto de um conto que havia terminado na manhã do mesmo dia.

Em meu entender de escritor, tratava-se de uma história triste, tristíssima, dessas que às vezes não sei bem porquê sou levado a escrever.

Claro que me afastei, enquanto o conto era lido por essa aluna.

À distância, surpreendi-me ao escutar rápidas e discretas risadas da leitora amiga.

Mais perplexo deixou-me o seu comentário:

– Ótimo! Divertidíssimo, esse conto! ? foi o que me revelou essa leitora, apossando-se da autoria com outro entendimento de minha história, no caso, leitora-escritora às voltas com a arte da vida transfigurada por palavras.

Nada lhe retruquei, seguro da injustiça presente em meu sentimento de raiva devido à perda da posse única de meu conto, perda que devo entender que é um ganho, pois tantas vezes, igualmente, tomo para mim a autoria de histórias escritas por outros escritores.

A casa do tesouro

Se escrever histórias exige do escritor um empenho árduo, não menos, ler histórias exige do leitor um árduo empenho. Deveras, ler e escrever histórias não são hábitos fáceis de adquirir. Contudo, nos fornecem prazeres de preciosa valia.

Verdade é que o melhor na vida não é fácil.

Não é fácil a conquista feliz de uma boa história de amor na vida. O que, igualmente, nos fornece prazeres de preciosa valia.

Se conviver com histórias e seus prazeres ? na fantasia dos livros ou na realidade da existência ? nos fornece sabedoria para a arte de viver, não menos é necessária uma justa aprendizagem para essa promissora convivência.

Principiei a gostar de ouvir histórias, ler histórias, escrever histórias e gostar da vida ? na fantasia dos livros ou na realidade da existência ? por obra e graça da aprendizagem que no costume do dia-a-dia me forneceram meu pai e meus professores, desde minha infância, em casa, na escola primária e, mais tarde, na adolescência, no ginásio da cidade em que nasci.

Verdade é que era um tempo sem tanta pressa inútil feito hoje.

À noite, após o jantar, na sala de estar de casa, se não havia o que conversar entre meus tios, primos e meus avós espanhóis, meu pai lia histórias para todos nós.

Ator em sua juventude, quando estudante de Medicina no Rio de Janeiro, interpretava os enredos e suas personagens, de tudo fazia feliz espetáculo. Chegava ao requinte de paramentar-se tal qual um ou outro protagonista da história de ocasião que lia.

Quem mais gostava dessa festa era minha avó espanhola em seus últimos anos de vida.

Hoje, passados mais de cinqüenta anos desses acontecimentos familiares de minha infância, estou seguro de que era mais para a alegria de vovó que se endereçava todo o esforço e empenho das leituras de meu pai.

Ao longo daqueles anos 50, por mais de mil e uma noites desse percurso de leituras em casa conviveram conosco, entre tantos outros contistas, romancistas e poetas, Machado de Assis, Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Mark Twain, Jack London, Edgar Alan Poe, Charles Dickens, Robert Louis Stevenson, Oscar Wilde, Leon Tolstoi, Máximo Gorki, Anton Tchecov, Voltaire, Victor Hugo, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Emile Zola e, sempre, sempre, sempre Miguel de Cervantes, mais Federico Garcia Lorca, pois afinal de contas tratava-se de uma casa espanhola com certeza, no interior do Estado do Espírito Santo, Brasil.

Num certo 13 de maio, creio que em 1953, papai nos reuniu a todos, inclusive alguns vizinhos, para uma leitura pomposa de ?O Navio Negreiro?, de Castro Alves. A que juntou um poema de sua própria autoria a respeito do valor dos negros e da Abolição da Escravatura.

Outras festas semelhantes com leituras de papai aconteceram em um ou outro vinte e um de abril ou sete de setembro, nalgum dia da árvore ou quinze de novembro e sempre no Natal, mais no dia de Reis.

Na véspera de meu décimo aniversário, em 1956, mamãe avisou-me em segredo que papai havia comprado um tesouro para mim. E que esse tesouro seria meu presente no dia seguinte.

Era, não mais, nem menos do que ?O Tesouro da Juventude?, valiosa reunião de conhecimentos em 18 volumes belíssimos e ilustrados que me foram entregues com a obrigação de ler no decorrer das férias e do ano seguinte.

Evidente que li sem me arrepender. A bem dizer, nada demais. Dois anos antes, ganhara todo o Monteiro Lobato para crianças, 17 volumes em capa dura, que li em menos de dez meses.

Verdade é que ainda hoje, em minha memória, reencontro papai e suas histórias, algumas vezes alegremente com tapa-olho e espada de pirata, lendo para nós ?A Ilha do Tesouro?, de Robert Louis Stevenson.

O mel das abelhas

Certa manhã, tio Alípio Barcelos, português em quem bondade e inteligência nasceram e viveram por mais de noventa anos, ao me encontrar na biblioteca de casa com ?Histórias de Tia Nastácia?, Monteiro Lobato, interrompeu-me a leitura com outra história, a de que ler é tão importante para todos feito respirar e comer.

– E não só a leitura dos livros. Se tu queres ver, deixe de prosa e venha comigo ? insistiu e me levou até o pomar, no quintal de casa.

No pomar, pôs-se a contar a história de cada árvore, da origem das mudas de flor no jardim, de meu avô contrariado com a oliveira que jamais frutificava, da construção da cerca que margeava o riacho nos fundos do terreno, da grande enchente que tudo cobrira e derrubara as paredes da edícula onde ficavam guardadas as ferramentas usadas para o plantio, sua reconstrução posterior.

Lia para mim algumas das páginas do grande romance de nosso quintal.

Diante das caixas de abelhas sob os eucaliptos junto ao muro que dividia nosso terreno com o terreno dos vizinhos, adiantou-me que não só os homens sabem ler:

– Toda a natureza lê. As abelhas, se não soubessem ler, não saberiam fazer mel. Lêem as histórias que as flores lhes contam e com elas constroem a vida das abelhas. É isto…

Daí, adiantou-me que na capoeira de erva cidreira além do pé de carambola vivia um saci.

– Nunca vi, mas sei que mora ali, pois foi o que certa vez me alertou sua avó, que não é mulher de mentir. Esta, porém, é outra história que te conto noutra ocasião. Trate agora de voltar ao livro que lia e deixe de contar prosa do que leu. Há muito o que ler e nunca é bastante, pois que ninguém consegue ler tudo, só Deus.

Imediatamente, retornei a Lobato. Evidente que intrigado.

Por conta dessa conversa com meu tio, hoje reconheço que desde então trazia comigo a mais precisa descoberta da história de qualquer leitor.

A primeira palavra

A primeira palavra que por conta própria li em público e em voz alta, após pretensamente alfabetizado, foi ?epóca?. Assim mesmo, com a tônica deslocada para a segunda sílaba.

– O que é ?epóca?? ? logo perguntei a meu pai, apontando a folha de jornal que protegia o assoalho recém-encerado da sala de jantar, onde se encontrava escrita a estranha palavra.

Papai, surpreso, corrigiu:

– ?Época?! ?Época?! ? e feliz levantou-me do chão, seguro por suas mãos para o melhor abraço de minha vida. ? Ele já sabe ler! Ele já sabe ler! ? logo levou a notícia a mamãe com tamanho entusiasmo que, a bem da verdade, livrou-me da vergonha de ter lido errado, certo de que não era mau reconhecer e corrigir um erro.

No dia seguinte, deu-me uma caixa com um tabuleiro e muitas peças de madeira, meu jogo de palavras cruzadas que tenho comigo até hoje junto de outras lembranças de infância, relíquias preciosas de minha história pessoal, evidentes testemunhas de que viver é bom.

Desde essa história, todas as vezes que leio a palavra ?época?, não me mete medo a História de nossa ?época?, ainda que tempo de tantas desigualdades, guerras, barbaridades.

Camões quase destronado

Na escola primária onde me alfabetizei não foi diferente.

Ainda que nossa professora fosse mal vista por alguns pais como ?a maior malandra que não ensina a ler e só sabe ler histórias para as crianças durante as aulas?, deveras, ela nos ensinou a ler e a gostar de histórias tão somente lendo histórias para nós.

Lia com graça de viva contadora de histórias.

Se nos percebia atraídos por alguma palavra, frase, passagem do enredo da história lida, escrevia no quadro negro e em muitos modos de escrever – com letras de forma, manuscritas, em maiúsculas e minúsculas ? essa palavra, frase ou passagem, nos despertando a atenção para seus desenhos caligrafados na lousa.

Sem demora nos incentivou a copiar seus desenhos.

Rapidinho aprendemos a ler. E a gostar ainda mais de ouvir histórias e de ler histórias.

No ginásio, em especial na terceira série, hoje sétima, a professora de Português, nos dois semestres do ano letivo, cuidou tão somente de ler para nós e nos fazer ler crônicas, contos, trechos de romances, biografias e poesias que, direta ou indiretamente, tinham por temas os conteúdos das mais diversas disciplinas em curso.

Assim, nos afeiçoamos à Matemática, lendo, comentando e discutindo ?O Homem que Calculava?, de Malba Tahan.

Melhor entendemos a História do Brasil, quando estivemos às voltas com os capítulos de ?Esaú e Jacó?, Machado de Assis, dedicados à proclamação da República.

Surpreendente foi, para nós todos da classe, a leitura dramatizada que fizemos de ?Édipo Rei?, Sófocles, em meio à nossa unânime paixão pela mitologia grega.

Vasta foi a contribuição de Julio Verne nos afeiçoando à Geografia e às demais ciências da conquista humana.

?Memórias de um Sargento de Milícias?, Manuel Antônio de Almeida, muito nos esclareceu como era a vida do povo no tempo do rei Dom João. E melhor compreendemos os primeiros anos do mando de Pedro II com a vivacidade da comédia ?O Noviço? Martins Pena.

Lemos e discutimos as mais pungentes passagens da vida de Madame Curie, dando evidente realce à importância da Química para a História da Humanidade.

E a Biologia nos chegou com a biografia de Louis Pasteur.

Feliz foi, sobretudo para mim, a ocasião em que essa professora de Português trouxe até nos meu pai, que, médico na cidade, nos contou, em palestra ilustrada com fotos, cartazes, crônicas e músicas de época, a história da vida do cientista brasileiro Oswaldo Cruz.

Fomos estimulados a buscar outras histórias entrevistando avós e tios, imigrantes, filhos das mais diversas nações agora vivendo na comunidade de todos nós.

Escrevíamos relatórios e redações, em grupo e individualmente, a partir das histórias que ouvíamos e líamos, nessas aulas de Português.

Muitas vezes parodiávamos poemas em plágio explícito, incentivados pela professora, o que nos divertia pra valer aprimorando nossa escrita.

Camões, admirado, glorificado e lido, por pouco não foi destronado:

?Sem armas ou barões assinalados,
Neste cantão da terra capixaba,
Gente simples, povo de outros povos,

Mais do que prometia a própria força humana,
Com trabalho duro e sem vara de fada,
Mostra cafezais e gado bem tratados,?

Claro que não fomos muito adiante com o épico que sonhamos escrever, mas, daí, passamos a contar e a escrever histórias inventadas por nós. A mais feliz farra nessas nossas aula de Português.

Hoje, tais lembranças da importância de ouvir e ler histórias me levam a crer que seria bastante proveitoso se os mais diversos professores de agora, sem tanta pressa para passar seus conteúdos aos alunos, dedicassem certo tempo de suas atividades contando e lendo histórias referentes ao conhecimento de suas disciplinas, somando esses seus valiosos esforços com seus colegas do ensino de Português e Literatura.

Uma valiosa preguiça

Na Faculdade de Letras, vivenciamos, também, incomum e curiosa experiência de leitura no doloroso ano de 1969, em meio a nossos temores de estudantes submetidos à violência da ditadura militar.

Desde a primeira aula, nossa professora de Teoria Literária dividiu a turma em oito grupos. Em rodízio, nos distribuiu, sem maior critério, oito obrigações de estudo, cada um delas com cada grupo a cada mês do ano letivo.

Assim, tivemos de ler e comentar por escrito e em seminários:
1- ?A Ilíada? & ?Odisséia?, Homero
2- ?Eneida?, Virgílio
3- ?A Divina Comédia?, Dante Alighieri
4- ?Decameron?, Boccaccio

5- ?Fausto?, Goethe
6- ?Ulisses?, James Joyce
7- ?Esaú e Jacó? & ?Memorial de Aires?, Machado de Assis
8- ?Grande Sertão: veredas?, João Guimarães Rosa

Havia os que acusavam a professora de agir assim, não mais nem menos, por preguiça de ministrar aulas. Realmente, ela não deu nenhuma aula no decorrer do ano. Chegava na sala, sentava em sua cadeira, fazia a devida chamada e nos perguntava se tínhamos alguma dúvida em nossas leituras. Às vezes passava alguma referência bibliográfica ou texto crítico a respeito de alguma das obras que estávamos lendo. Quando mais, sorteava a data devida para ouvir nossos seminários, a que atribuía suas notas.

Outros insinuavam que a professora assim fazia por temor de ter sob suspeita da polícia algum de seus comentários teóricos, naquele ambiente de pesada repressão política. Suspeita vã, pois que ninguém ignorava suas simpatias pelo governo militar.

Eu me incluía entre os que acreditavam em sua evidente preguiça de dar aula. Preguiça associada à incompetência, pois que a mestra não era lá muito conhecedora do assunto de seu magistério. Ocupava sua cadeira na faculdade por conta de ser filha da velha catedrática de Literatura Brasileira, pessoa de reconhecido poder na hierarquia universitária.

Graças à sua valiosa preguiça, alcançamos dezembro com todas as obras lidas e estudadas. Um grande ganho para todos nós, recompensa sem dúvida maior e melhor do que obteríamos assistindo às supostas aulas da duvidosa mestra.

Decerto ler não dói

Creio que me tornei escritor devido a meu gosto por ouvir histórias e ler histórias, prazer tatuado em mim por toda essas aventuras na travessia de minha vida, atento ao empenho e esforço das abelhas de meu tio português.

Sei, contudo, que prefiro ler a escrever.

Decerto, ler não dói.

Escrever às vezes dói, ainda que seja dor logo transfigurada no mais seguro prazer.

Até mesmo creio que leio melhor do que escrevo.

Sei que há escritores que escrevem para ser amados. Outros, porque se julgam infelizes e criam, por suas histórias, mundos diversos, nos quais alcançam alguma felicidade. Há aqueles que escrevem porque não conseguem deixar de escrever. E os que escrevem porque não sabem fazer nada mais senão escrever histórias.

Creio que escrevo por conta do sabor de certas boas saudades, feito quem procura ter o tempo nas mãos por gostar do vivido, mesmo quando inventado. Por gostar imensamente da vida, esse vasto romance de Deus, com intriga e aventuras algumas vezes tão bem resolvidas ou tantas vezes expressas num rascunho rasurado, pleno de falhas que nos revoltam e nos levam ao desejo de reescrevê-lo, ainda que sempre obra-prima de Seu escritor.

Que Deus abençoe o leitor.

São Paulo, 2006

copyright do autor

José Arrabal é professor universitário, jornalista e escritor, autor de contos, novelas e romances. Entre suas obras, sobressaem ?A Princesa Raga-Si?, ?O Livro das Origens?, ?Lendas Brasileiras, Vol 1/Vol. 2? e ?Cacuí O Curumim Encantado? (Editora Paulinas), ?A Ira do Curupira? (Editora Mercuryo Jovem), ?O Noviço?, ?Demeter, A Senhora dos Trigais?, ?O Monstro e a Mata? e ?O Nariz do Vladimir? (Editora FTD), ?Histórias do Japão? (Editora Peirópolis), ?Contos Brasileiros? (com outros autores ? Ed. Expressão Popular) e ?Anos 70 ? Ainda Sob a Tempestade? (Aeroplano Editora). Contatos com o autor podem ser feitos pelo e-mail josearrabal@uol.com.br.

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